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Opinião|Pedro II nas Arcadas

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convidado
Por José Renato Nalini
José Renato Nalini. Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

O nosso Imperador Pedro II foi um estadista inexcedível no seu interesse pela educação, pela cultura e pelas artes. Não há notícia de outro chefe de Estado que tenha se dedicado a acompanhar defesas de teses e de exposições equivalentes ao TCC - Trabalho de Conclusão de Curso, com o genuíno interesse do Imperador.

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Era presença constante no Colégio Pedro II, no qual participava da arguição dos alunos. Acompanhava o desenvolvimento do aprendizado daqueles que se destacassem e os estimulava a prosseguir, inclusive financiando estudos fora do Brasil.

Ele fez várias visitas à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Em 2 de abril de 1846, voltou às Arcadas para assistir à defesa de teses apresentadas pelo bacharel Francisco Carlos de Araújo Brusque, natural da província de São Pedro do Sul. O primeiro a arguir foi o diretor interino da Faculdade, cujo titular não assumira ainda e nunca assumiu a função. Impressionou-se o Imperador com a maneira ríspida do primeiro examinador. Seguiu-se o Conselheiro Carneiro de Campos, cujas maneiras urbanas e delicadas contrastaram com as de seu antecessor. Depois dele, os professores Gurgel do Amaral, Dias de Toledo e Anacleto.

No dia 3 de abril, retornou o Imperador e houve continuidade na defesa das teses do bacharel Brusque, com arguição dos docentes Conselheiros Crispiniano e Carrão, diante da ausência dos lentes Falcão e Cabral. A formalidade da arguição era tamanha, que se comentou a inadequação do tratamento de "Senhoria" ao doutorando, pois só ao Imperador compete dar tratamento àqueles que, por lei, o não têm.

À tarde, saiu a "procissão do triunfo", que era a celebração do bom êxito do candidato, vencedor em suas teses. Compunham-na os professores, o novel doutor e demais alunos da São Francisco. Suas Majestades Imperiais, D. Pedro II e D. Tereza Cristina, trajados de preto, permaneceram à janela, acompanhando desenvolvimento do préstito.

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No dia seguinte, 4 de abril, os jornais noticiavam que a Academia tem monopolizado a presença do Imperador, desde as nove da manhã, até uma da tarde. Dom Pedro assistiu às lições de alguns dos anos ainda não por ele ouvidos. Começou pela aula do primeiro ano, Direito Natural e Público, lecionada pelo diretor interino, que era o lente Brotero. Depois, assistiu à aula do terceiro ano, a cargo do Dr. Cabral, à do segundo, Direito Eclesiástico pelo Dr. Anacleto e à do quarto, Direito Marítimo, sob a batuta do Dr. Falcão. O Imperador ainda teve a paciência de ouvir aula de História, do professor Ribas e ouviu longa preleção sobre o Direito Civil pátrio, sob a regência do Professor Padre Vicente Pires da Motta.

Anotaram os jornalistas que "em presença do Imperador, também os lentes querem brilhar". Os alunos comentam que, assim que Sua Majestade se afasta, voltam os professores a determinar que os alunos leiam as postilas antigas e pouco revisitadas ao longo dos anos.

O Imperador ainda quis assistir à defesa de tese de Eduardo Olímpio Machado, o que lhe levou mais dois dias. Já no dia 7 de abril, houve solenidades oficiais: cortejo precedido de "Te Deum". Festejava-se a entronização do Imperador ainda adolescente, pois não contava vinte e um anos, mas, ao mesmo tempo, a abdicação do impetuoso pai.

Começava a Semana Santa e o Imperador resolveu assistir em São Paulo às cerimônias da Paixão e Ressurreição de Cristo. Quem narra é Azevedo Marques: "Na quinta-feira de Endoenças, o Imperador celebrou a cerimônia de Lavapés, sendo para isso chamados doze pobres. Estava preparada para o ato a sala do trono e permitiu-se o ingresso a todas as pessoas decentemente vestidas. À noite de sábado de Aleluia teve lugar esplêndido baile, oferecido aos imperiais viajantes pela viúva do Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão. Depois de assistirem à festa da Ordem Terceira do Carmo no dia 12, deram beija-mão de despedida e partiram de sege, às quatro horas da tarde, para pousarem no Pouso Alto. Seguiram na manhã imediata para Santos e chegaram à barreira do Cubatão à uma hora da tarde".

Como seria notável que os governantes de hoje se interessassem pela educação com esse fervor. Talvez a educação não capengasse tanto e o Brasil seria muito diferente.

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*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

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