Além de classificar de 'longa manus' o ex-ministro Geddel Vieira Lima e os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, a Polícia Federal detalhou o que chama de segundo escalão que atuaria a serviço do presidente Michel Temer no 'quadrilhão' do PMDB na Câmara. Em relatório levado ao Supremo Tribunal Federal, a PF atribui R$ 31,5 milhões em 'vantagens indevidas' ao peemedebista e o coloca em posição central nas teias dos supostos esquemas peemedebistas.
Foram indicados pela PF como nomes que participaram da organização criminosa, pela ramificação do PMDB da Câmara: o presidente Michel Temer, os ex-presidentes da Casa Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, e ainda Geddel, Moreira Franco e Eliseu Padilha. A corporação os aponta como o primeiro escalão dos esquemas.
O relatório tem como base delações da Odebrecht, da J&F e do corretor Lúcio Funaro e mensagens apreendidas no celular do ex-deputado Eduardo Cunha, condenado a 15 anos e quatro meses de prisão na Lava Jato e aliado histórico do presidente.
Abaixo dos caciques peemedebistas, a teia da Polícia Federal se expande em torno do presidente e, em posição considerada hierarquicamente menos relevante no 'quadrilhão', 'orbitam' e 'executam decisões' do primeiro escalão parlamentares e assessores.
Quatro integrantes do suposto segundo escalão são ex-assessores e homens de confiança do presidente.
Um deles é Rodrigo Rocha Loures, da mala dos R$ 500 mil da JBS, acusado de interferir junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em benefício do grupo em troca de propinas semanais dos delatores do grupo. Outro é Nelson Tadeu Fillipelli, alvo da Operação Panatenaico por supostos desvios na construção do estádio Mané Garrincha, para a Copa/2014.
O deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que foi assessor especial de Temer, acusado pelo doleiro Lúcio Funaro de receber R$ 2 milhões para beneficiar a OAS comMedidas Provisórias, em 2014, e delatado pela Odebrecht como recebedor de R$ 10 milhões para apoiar o 'Projeto Madeira', em Rondônia, também integra o segundo escalão do 'quadrilhão', segundo a PF.
Outro aliado do presidente que a PF incluiu no segundo escalão é o ex-assessor José Yunes, investigado por suposto recebimento de R$ 10 milhões, a pedido de Eliseu Padilha, da Odebrecht.
O doleiro Lúcio Funaro diz, em delação, ter operacionalizado os valores e alegou ter deixado R$ 1 milhão no escritório de advocacia de Yunes a pedido de Geddel.
Indicado por Temer ao Ministério da Agricultura em 2013, Antônio Eustáquio Andrade Ferreira é apontado como outro político peemedebista com posição de destaque no 'quadrilhão'. Ele é delatado pela JBS e por Funaro pelo supostorecebimento de R$ 7 milhões em troca da edição de atos normativos na pasta.
O irmão de Geddel, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB/BA), também foi incluído no segundo escalão. De acordo com a PF, recaem sobre ele investigações em torno da Medida Provisória nº 600/2012, em benefício de construtoras em suposto acerto feito entre a OAS e Eduardo Cunha.
Na delação da Odebrecht, ele é citado como receptor de R$ 1 milhão como contrapartida a aprovação de leis favoráveis aos interesses da empreiteira.
Lúcio ainda aparece nessa teia do segundo escalão, que 'orbita' a um raio um pouco mais longo de Temer, em razão do depoimento de Silvio Silveira, dono doapartamento onde ficava o bunker dos R$ 51 milhões atribuídos a Geddel.
Segundo o empresário, ele teria emprestado o apartamento ao deputado no bairro da Graça, em Salvador, em nome de sua amizade, sob a justificativa de que Geddel guardaria lá bens do falecido pai. Até mesmo uma fatura em nome da empregada de Lúcio, Marinalva de Jesus, foi encontrada no apartamento.
COM A PALAVRA, TEMER
O Estado Democrático de Direito existe para preservar a integridade do cidadão, para coibir a barbárie da punição sem provas e para evitar toda forma de injustiça. Nas últimas semanas, o Brasil vem assistindo exatamente o contrário. Garantias individuais estão sendo violentadas, diuturnamente, sem que haja a mínima reação. Chega-se ao ponto de se tentar condenar pessoas sem sequer ouvi-las. Portanto, sem se concluir investigação, sem se apurar a verdade, sem verificar a existência de provas reais. E, quando há testemunhos, ignora-se toda a coerência de fatos e das histórias narradas por criminosos renitentes e persistentes. Facínoras roubam do país a verdade. Bandidos constroem versões "por ouvir dizer" a lhes assegurar a impunidade ou alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes. Reputações são destroçadas em conversas embebidas em ações clandestinas.
Muda-se o passado sob a força de falsos testemunhos. Vazamentos apresentam conclusões que transformam em crimes ações que foram respaldas em lei: o sistema de contribuição empresarial a campanhas políticas era perfeitamente legal, fiscalizado e sob instrumentos de controle da Justiça Eleitoral. Desvios devem ser condenados, mas não se podem criminalizar aquelas ações corretas protegidas pelas garantias constitucionais.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República
COM A PALAVRA, PADILHA
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, informa que só irá se pronunciar quando e se houver acusação formal contra ele que mereça resposta.
COM A PALAVRA, MOREIRA FRANCO
Jamais participei de qualquer grupo para a prática do ilícito. Repudio a suspeita. Responderei de forma conclusiva quando tiver acesso ao relatório do inquérito. Lamento que tenha que falar sobre o que ainda não conheço. Isto não é democrático.
Moreira Franco
COM A PALAVRA, ANTONIO ANDRADE
1 - São absolutamente falsas e inconsistentes as suposições de que eu teria recebido qualquer benefício da JBS em troca de apoio político no Ministério da Agricultura, no tempo em que fui ministro daquela pasta.
2 - Afirmo que, durante a minha gestão à frente do Ministério (16/03/2013 a 17/03/2014), jamais editei qualquer ato normativo que privilegiasse a JBS ou qualquer outra entidade, e que as decisões tomadas na pasta naquele período nunca sofreram influências externas.
3 - Não sou e nunca fui alvo de nenhuma denúncia, nem acusado pela prática de nenhum ilícito. Os fatos serão esclarecidos no âmbito do inquérito.
Antônio Andrade
Vice-governador de Minas Gerais
COM A PALAVRA, GEDDEL
A defesa de Geddel Vieira Lima informa que, "diante das reiteradas violações ao seu direito de defesa", vai prestar os esclarecimentos em juízo.
COM A PALAVRA, EDUARDO CUNHA
Já o advogado de Cunha, Délio Lins e Silva, disse que o ex-deputado nega "veementemente todas as acusações e prestará os devidos esclarecimentos oportunamente".
COM A PALAVRA, HENRIQUE EDUARDO ALVES
O advogado do peemedebista, Marcelo Leal, afirma que 'Henrique Eduardo Alves faz parte do PMDB há mais de 40 anos e não de uma organização criminosa'. "A tentativa de criminalizar a atividade política enfraquece a democracia e a sua inocência será provada ao longo do processo".
COM A PALAVRA, YUNES
O advogado tem negado envolvimento em ilícitos e afirma que vai tomar as medidas cabíveis na Justiça 'sobre qualquer inverdade'.
COM A PALAVRA, LÚCIO VIEIRA LIMA
A reportagem entrou em contato com o gabinete do deputado. O espaço está aberto para manifestação.
COM A PALAVRA, FILLIPELLI
O ex-assessor de Temer não foi localizado. O espaço está aberto para manifestação.
COM A PALAVRA, ROCHA LOURES
A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-assessor. O espaço está aberto para sua manifestação.
COM A PALAVRA, SANDRO MABEL
O ex-parlamentar não foi localizado. O espaço está aberto para manifestação.
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