
Ao pedir a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, a Polícia Federal (PF) citou uma "organização criminosa" que, segundo os investigadores, se "infiltrou" no Ministério da Educação (MEC).
Os policiais federais descreveram "camadas de atuação" usadas para controlar a pasta. De acordo com a PF, o ex-ministro seria responsável por "conferir o prestígio da administração pública federal à atuação" dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
"Conferindo aos mesmos honrarias e destaque na atuação pública da pasta, até mesmo, internamente, nas dependências da sede do Ministério da Educação, e, sobretudo, nos eventos onde os pastores faziam parte do dispositivo cerimonial", diz a Polícia Federal.
O objetivo, segundo a investigação, seria "promover a própria imagem e explorar economicamente o serviço público".
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As manifestações do MPFDocumento
A decisão da Operação Acesso PagoA manifestação dá destaque para a nomeação do advogado Luciano Musse como gerente de projetos da Secretaria Executiva do MEC. A PF diz que a escolha demonstra a "sofisticação da atuação agressiva da ORCRIM (organização criminosa)" e seu "desprezo à probidade administrativa e fé pública". Ele foi citado pelo prefeito de Jaupaci (GO), Laerte Duarte, como "assessor" do pastor Arilton.
Outro trecho aponta o ex-assessor da Prefeitura de Goiânia, Helder Diego da Silva Bartolomeu, que é genro do pastor Arilton Moura, como intermediário de propinas. Os investigadores dizem que a conta dele foi usada para receber vantagens indevidas.
A representação da Polícia Federal resultou na Operação Acesso Pago, que prendeu ontem o ex-ministro e os pastores. Eles conseguiram, no entanto, um habeas corpus junto ao Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1), em Brasília, para aguardar a conclusão das investigações em liberdade.
Ao analisar os material enviado pela PF, o juiz Renato Borelli, da 15.ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, autorizou as quebras de sigilo bancário do grupo. A ordem alcança Milton Ribeiro e a mulher dele, Myriam Ribeiro Pinheiro; o pastor Gilmar Santos; o pastor Arilton Moura e a filha dele, Victoria Camacy Amorim Correia Bartolomeu; Helder Diego da Silva Bartolomeu e Luciano Musse. Também atinge quatro empresas ligadas a eles.
Propina
Quando o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação veio a público, revelado pelo Estadão, a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma investigação preliminar. Algumas movimentações bancárias chamaram atenção dos auditores: depósitos de R$ 20 mil na conta de Luciano Musse e transferências de R$ 30 mil para Helder Bartolomeu. Os pagamentos teriam sido feito em parcelas por Danilo Felipe Franco a pedido do pastor Arilton.
Ao encontrar os depósitos, a CGU acionou a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF). "No decurso da Investigação Preliminar Sumária também foi identificada a prática de atos suspeitos por pessoas que não se submetem à competência correcional da Controladoria-Geral da União", informou o órgão.
A PF também coloca sob suspeita um depósito de R$ 50 mil na conta de Myriam Ribeiro, mulher do ex-ministro. Como mostrou o Estadão, a defesa do casal alegou que o valor seria oriundo da venda de um carro e teria sido repassado por familiares do pastor Arilton Moura que compraram o veículo.
Os policiais federais dizem que o relatório entregue pela Controladoria, somado aos achados da investigação, "demonstram, documentalmente, o recebimento de vantagem solicitada por pelos investigados".