O empresário José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, foi alvo de buscas nesta quinta-feira, 3, em uma nova fase da Operação Overclean, que investiga desvios de emendas parlamentares.
O secretário de Educação de Belo Horizonte, Bruno Barral, também é investigado e foi afastado do cargo por ordem do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que é o relator do inquérito. O Estadão busca contato com Barral.
A Polícia Federal fez buscas em 16 endereços em Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Aracaju. Esta é a terceira fase da Operação Overclean.
Segundo cálculos atualizados da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema de fraudes em contratos e superfaturamento de obras investigado na Operação Overclean movimentou cerca de R$ 1,4 bilhão.
Os contratos suspeitos envolvem prefeituras na Bahia, Tocantins, Amapá, Rio de Janeiro e Goiás. Só em 2024, o grupo investigado ganhou mais de R$ 825 milhões em contratos com diferentes órgãos públicos.
Os crimes investigados são corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça.
A Polícia Federal afirma que o esquema envolveu negociação de propina com servidores públicos. Os federais investigam agora se houve conluio com os deputados que indicaram as emendas. O inquérito foi enviado ao STF porque o deputado Elmar Nascimento (BA), que tem foro privilegiado, foi citado. Ele nega irregularidades. A investigação tramita em sigilo.

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O “Rei do Lixo” é um personagem central da investigação. A PF afirma que ele tem uma ampla rede de contatos e influência política que usaria para facilitar o andamento dos contratos superfaturados. O empresário chegou a ser preso no inquérito, mas conseguiu habeas corpus para aguardar a conclusão da investigação em liberdade.
Os irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, donos de empresas de construção, também são investigados. Os policiais federais apreenderam R$ 1,5 milhão com Alex em um jatinho que saiu de Salvador para Brasília. Ele é apontado como líder do esquema, responsável por coordenar as fraudes nas licitações, negociar com servidores públicos e organizar o pagamento de propinas. Já Fábio agiria como o braço financeiro do grupo, cuidando da transferência dos recursos aos aliados.
O inquérito teve início a partir de suspeitas envolvendo uma licitação de quase R$ 112 milhões para pavimentar avenidas e estradas urbanas e rurais em municípios da Bahia. O processo licitatório estava sob responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), autarquia federal vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
“As investigações apontam que o esquema criminoso atingiu principalmente o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), especialmente a Coordenadoria Estadual da Bahia (CEST-BA), além de outros órgãos públicos que contavam com o apoio operacional da organização criminosa nas localidades afetadas”, informou a CGU em comunicado nesta quinta.
Na primeira fase da operação, em dezembro de 2024, 17 pessoas foram presas preventivamente. Entre elas, o “Rei do Lixo”, os irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, o advogado Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-coordenador do DNOCS na Bahia, e o vereador Francisco Manoel do Nascimento Neto, o Francisquinho Nascimento (União-BA), de Campo Formoso (BA), que jogou uma sacola com R$ 220 mil pela janela durante a batida da PF. Francisco é primo de Elmar Nascimento. As defesas conseguiram revogar as prisões preventivas.
A segunda fase da Operação Overclean, deflagrada dias depois, prendeu outras quatro pessoas. O agente da Polícia Federal Rogério Magno Almeida Medeiros foi um dos alvos. Ele é apontado na investigação como “informante” do esquema. A defesa alega inocência. O vice-prefeito de Lauro de Freitas, Vidigal Cafezeiro (Republicanos), o ex-prefeito de Santa Cruz da Vitória, Carlos André de Brito Coelho, e o secretário de Mobilidade Urbana de Vitória da Conquista Lucas Moreira Martins Dias também foram presos.