A conversibilidade é a característica da moeda que é facilmente trocada por outra. Quando um país apresenta estabilidade econômica, também consegue capturar a confiança da sociedade e, principalmente, do mercado financeiro internacional. Desse ponto em diante, sua moeda pode ser vista como um bom negócio. Ou seja, ela passa a ser conversível. Sem restrições em âmbito global e livremente aceita em outros países.
Hoje, pelo menos enquanto escrevo esse texto, esse atributo não se aplica ao real. Ainda que o Brasil seja considerado um país moderno, com mercado financeiro e sistema bancário bem estabelecidos, a percepção internacional é de que, por aqui, há pouca constância jurisdicional e de que o real é uma moeda ainda nova.
De fato, quando comparada ao dólar norte-americano e as demais moedas em geral, o real é quase uma criança. Quem nasceu no final dos anos 1990 não acompanhou os desdobramentos da troca de moeda no Brasil, que afetou não só a economia, mas a vida cotidiana das famílias brasileiras. A implantação do Plano Real, em 1994, buscava equilibrar a inflação no período e iniciar um novo ciclo de desenvolvimento econômico.
A história do real nos revela uma tentativa de combater a inflação após várias experiências malsucedidas - não é demais lembrar que em 1993, a inflação chegou a bater 2.700%. O Plano Real foi um episódio importante na história do Brasil porque acabou com a inflação - momentaneamente, iniciando um novo ciclo de desenvolvimento econômico.
De volta a 2021, o Banco Central já deu sinais concretos de que trabalha para que os tempos de índices positivos voltem a ser uma realidade e, desta vez, mais duradoura. Em um esforço para reduzir o custo de transações e investimentos internacionais, a intenção é de que o real se torne uma moeda conversível, quiçá digital, em dois ou três anos.
Poucos meses atrás, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ratificou que espera num futuro próximo, com ansiedade, a aprovação das alterações à legislação cambial que se encontram na Camara dos Deputados. Nessa mesma ocasião, ele citou uma série de propostas que irão simplificar a regulamentação e tornar os mercados financeiros mais flexíveis e acessíveis.
A agenda de reformas apresentada por Campos Neto promete ampliar o crédito para pequenas empresas e agricultores, aumentar a transparência financeira, aprimorar a supervisão financeira digital, melhorar a comunicação com investidores estrangeiros e educar os brasileiros. Tudo isso ajudaria a tornar mais fácil e barato fazer negócios no Brasil.
À esta altura, valem algumas ponderações. Uma moeda conversível abre o potencial para uma estabilidade econômica e financeira muito maior. Como o Brasil representa uma grande parte do PIB da América Latina, há uma grande demanda dos países vizinhos por contas em reais aqui. As barreiras financeiras, a burocracia e os custos dos negócios no País são muito altos e devem ser reduzidos para que possamos competir em um mundo de cadeias produtivas globais cada vez mais atuante.
Porém, a força de uma moeda também está muito atrelada à internacionalização. O real, aliás, não precisa ser plenamente conversível para ser internacional - principalmente, quando assumimos que, apesar de complementares, são conceitos diferentes. A internacionalização é um processo liderado pelo mercado e diz respeito à importância efetiva de uma moeda no mercado global.
No caso do real, medidas que ampliem sua aceitação no exterior teriam de caminhar lado a lado com as mudanças legislativas que a conversibilidade exige. O que precisamos encarar é o fato de que uma moeda ser conversível não assegura que ela será amplamente transacionada internacionalmente.
O que podemos afirmar, com certeza, é que tanto o mercado quanto a sociedade anseiam por soluções customizadas e simplificadas, por isso todo o setor observa o Banco Central com extrema curiosidade e atenção, à espera do anúncio de novas decisões. É certo que os próximos capítulos dessa história têm potencial para gerar um grande impacto na vida de todos os brasileiros, enquanto isso, do lado de cá, nos preparamos para atender às expectativas e novas necessidades desta sociedade que despontam com o Open Finance e o PIX, assim como outras iniciativas de digitalização que estão em moda no mercado financeiro, que terão impacto no dia a dia do brasileiro, com certeza.
*João Manuel Campanelli Freitas, COO do Travelex Bank