
O setor cultural foi, inegavelmente, um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19. Mais de 350 mil eventos como shows, exposições, congressos e feiras não puderam ser realizados no país em 2020, um baque de ao menos R$ 90 bilhões para o ramo, segundo levantamento da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape).
Se era impensável a realização de uma feira literária de 12 dias ininterruptos, mais de 11 horas de atividades diárias e participação de 350 mil pessoas (entre presencial e virtual), um ano e meio depois do turbilhão suscitado pelo novo coronavírus, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, encerrada no último dia 12, provou que é possível, sim, retomar com responsabilidade - e, acima de tudo, segurança - os grandes eventos literários no Brasil com público presente in loco.
Assim como na edição passada, em 2019, a Bienal de Pernambuco deste ano movimentou cerca de R$ 12 milhões em negócios, número ainda mais expressivo em se considerando o atual cenário econômico do país - especialmente para o nosso combalido, vilipendiado, mas resistente segmento cultural. Considerada o maior evento literário do Nordeste e o terceiro maior do país, a feira marcou ainda a volta das atividades econômicas do Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda.
Conseguimos reunir nomes de expressão nacional e internacional como Mia Couto, Itamar Vieira Júnior, Cida Pedrosa e Mariana Enríquez, além de cerca de 90 livrarias e editoras, que ocuparam 320 estandes. Foram realizados mais de 60 lançamentos literários, 50 palestras presenciais e outras 30 virtuais, totalizando 220 atrações. Um verdadeiro caldo de cultura, temperado pelas linguagens da literatura, gastronomia, dança e música. A utilização da plataforma e-Bienal ajudou a amplificar nosso contato - e nossos negócios - com todo o Brasil e o mundo, especialmente o povo lusófono.
De nada valeria, no entanto, o respiro econômico para a economia criativa do Nordeste e do país sem a garantia da saúde do público presente à feira, tanto dos profissionais envolvidos na produção quanto dos visitantes. Graças a bem-sucedidos protocolos sanitários adotados e medidas extras de prevenção, a Bienal de Pernambuco não registrou nenhum caso positivo do novo coronavírus.
Além do maior espaço utilizado dentro do Centro de Convenções, foram instalados equipamentos como o Fog in Place (FIP), inovação que garante a descontaminação de ambientes e superfícies por meio de micropartículas expelidas no ar, e câmera de medição de temperatura corporal e emissão de sinais que alertavam a presença de pessoas sem máscara. Durante o evento, a equipe da organização, também foi testada diariamente em um posto móvel da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco.
Com os cuidados necessários, comprovamos a viabilidade do retorno de grandes eventos culturais, de forma organizada, prudente e, ao menos por ora, híbrida. Esse é o grande legado deixado pela Bienal de Pernambuco de 2021, que abriu a temporada de feiras literárias com presença de público não só no país, mas também fora, a exemplo da Feira Literária de Frankfurt, na Alemanha, a maior do setor livreiro, que acontecerá de forma híbrida entre os dias 20 e 24 de outubro. Os leitores e a economia cultural agradecem.
*Rogério Robalinho, produtor da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco