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Sobre previsões para a tecnologia

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Por Edmar Araujo
Atualização:
Edmar Araujo. Foto: ARQUIVO PESSOAL

Tive um chefe no setor público que impressionava pelo pragmatismo quando o assunto era tecnologia. Dizia detestar as expressões que mais promoviam do que vaticinavam determinadas tendências. Ele externava seu sentimento com a expressão "O ano do".

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Guru, até pouco tempo atrás, nada mais era do que um líder espiritual. Sobreveio a polissemia dos novos tempos, e começamos a ver pessoas serem assim chamadas em todos os campos do conhecimento. Autores sobre tecnologia não resistiram ao sentido mais moço do vocábulo e passaram a utilizá-lo para fazer referência a especialistas e a quem fala para fazer sentido - não necessariamente quem fala para produzir conhecimento.

Explico: uma hora tem 60 minutos e ela passará na mesma velocidade, não importam as circunstâncias. Certo? Para Albert Eisnten, o tempo não é absoluto e quanto maior a velocidade dos corpos, mais lenta é a sua passagem. Faz sentido falar da quantidade de minutos e da passagem do tempo da hora, mas ciência, que é a produção de conhecimento, foi o que fez o físico alemão.

Voltemos.

As previsões pululam idos após idos e "O ano do" é uma das máximas preferidas. Exemplos? O ano do blockchain, o ano dos criptoativos, e, agora, o ano do chatbot. Mas, alguém teria dito que investir no Metaverso em 2022 seria algum absurdo?

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Uma gigante do Vale do Silício decidiu apostar e, rapidamente, desistiu do lance. Após quatro meses, demitiu cerca de 100 funcionários dedicados ao seu projeto de universo virtual. Motivo? Tempo de desenvolvimento maior do que o esperado para iniciar a comercialização e lucros.

A característica mais assustadora dos tempos de transformação digital é a imprevisibilidade. Do dia para a noite, taxistas do Brasil viram suas licenças e seus trabalhos perderem valor com a chegada do transporte por aplicativo. Bem antes disso, empresas que produziam filmes fotográficos para equipamentos analógicos derreteram com o advento das câmeras digitais. Sobrechegou o smartphone, e o resto é história.

Se não é possível a presciência numa economia cada vez mais virtual e compartilhada, como é que ainda há quem se lance a revelar dias ainda não vividos?

Penso, sob a certeza de que posso não estar certo, que várias tendências apontadas por estes guias tecnológicos estão associadas ao movimento de mercado e aos seus interesses. Não é errado, mas precisamos entender o que são notícias e o que é informe publicitário para, enfim, distinguir bem o que se veicula por aí.

É importante não confundir o escrito até aqui com o que ocorre em outras áreas. É possível prever, mas tal não se realiza sob a ótica do interesse ou do desejo, mas sim da ciência de dados que permite dizer se chove ou se não chove.

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2023 será mais um ano repleto de boas e más notícias, de inovação e descobertas, de ascensões e descensos, enfim, de certezas e incertezas. Prever o que nos aguarda remete ao místico ou ao mítico, e talvez devêssemos deixar os oráculos para outras áreas da vida, especialmente da vida dos que creem e têm fé.

*Edmar Araujo, presidente executivo da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB). MBA em Transformação Digital e Futuro dos Negócios, jornalista

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