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STJ vai decidir se juiz pode exigir extratos bancários quando suspeitar de litigância predatória

Ministros do Superior Tribunal de Justiça vão definir se magistrados podem obrigar das partes entrega de documentos adicionais para verificar se ação está sob suspeita de fraude; pesquisadores veem risco de emperrar acesso à justiça

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Foto do author Rayssa Motta

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) se prepara para decidir o que um juiz pode fazer quando estiver diante de uma ação que lhe parecer fraudulenta. Está em discussão, por exemplo, se o magistrado poderá exigir documentos adicionais, como procuração atualizada em nome do advogado, declaração de pobreza, comprovante de residência e até cópia de extratos bancários.

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Os processos fraudulentos são conhecidos no meio jurídico pelo jargão “litigância predatória”. O termo sintetiza o fenômeno de ações apresentadas em série por um mesmo escritório, por meio de petições padronizadas em nome de pessoas vulneráveis, para enriquecimento ilícito do advogado.

O debate no STJ opõe magistrados e advogados. De um lado, associações de juízes defendem a autonomia da classe para exigir novos documentos das partes do processo para verificar que o pedido é autêntico e, se entender que há irregularidade, extinguir a ação sem julgar o caso. Um dos principais argumentos é que a medida poderá diminuir a fila de processos no sistema de justiça, excluindo ações “criadas artificialmente”.

Na outra ponta, os advogados temem entraves para o exercício da defesa e o acesso ao Poder Judiciário. Um dos problemas, na avaliação da categoria, é diferenciar a ação “predatória” de demandas recorrentes e legítimas, o que segundo argumentam poderia prejudicar advogados que atuam de forma correta. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) acompanham de perto o debate.

Advogados relataram, em audiência pública no STJ, que magistrados estariam pesando a mão com exigências, na avaliação da classe, desproporcionais, como procurações manuais no lugar das assinadas digitalmente e notificações para os clientes se apresentarem em juízo, além de pedidos de gratuidade supostamente negados sem justificativa.

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O relator do caso é o ministro Moura Ribeiro. Foi ele quem convocou a audiência pública no mês passado para ouvir os argumentos de magistrados, advogados e pesquisadores antes de colocar o tema em votação. Há processos suspensos aguardando o STJ bater o martelo.

Ministros do Superior Tribunal de Justiça vão definir se magistrados podem obrigar das partes entrega de documentos adicionais para verificar se ação está sob suspeita de fraude. Foto: ROBERTO JAYME/ESTADÃO

Aumento da desigualdade

Pesquisadores e professores de Direito da USP, Unesp, UFMG e FGV de São Paulo se uniram para enviar dados sobre o tema ao STJ. Eles concluem que, se a tese for aprovada, a tendência é que mulheres negras, pobres e de baixa escolaridade sejam prejudicadas, por terem menos capacidade de arcar com as custas dos processos.

“Há, portanto, alto risco de que o precedente, ao aumentar as exigências formais e documentais para a parte que litiga contra entes de maior porte, signifique a ampliação das já imensas desigualdades sociais brasileiras”, diz um trecho do documento.

Os especialistas também defendem que são as grandes empresas, como bancos, empresas de telecomunicação, seguradoras e operadoras de saúde, que sobrecarregam o sistema de justiça. “O grande volume de litígios enfrentados pelo Judiciário brasileiro não decorre do excesso de acesso à justiça, mas sim da alta taxa de violações de direitos experienciados pelos brasileiros”, argumentam.

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