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Opinião | Uma escola sedutora

Educar é mais do que fazer memorizar dados. Essa praxe já deixou o Brasil na rabeira, quando comparado com as nações mais adiantadas

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convidado
Por José Renato Nalini

Falar de uma escola sedutora é pensar se os estudantes estão satisfeitos com a educação atual. Empenhada em fazê-los decorar informações, nem sempre tão atualizadas quantas aquelas que eles obtêm mediante um clique em qualquer bugiganga eletrônica.

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Educar é mais do que fazer memorizar dados. Essa praxe já deixou o Brasil na rabeira, quando comparado com as nações mais adiantadas. Os índices dos estudantes brasileiros que se submetem ao Exame PISA, são vergonhosos. É crescente o número dos jovens que chegam à Universidade, após fragílimos ensinos fundamental e médio, e que não sabem falar. Nem sabem escrever. Nem conseguem se exprimir em vernáculo.

Essa lástima, lamentavelmente, chega à pós-graduação. E os concursos para recrutamento dos quadros que farão o Brasil funcionar, por exemplo, nas carreiras públicas estatais, privilegiam a capacidade mnemônica. Não se consegue apurar compatibilidade do candidato com as atribuições do cargo almejado. Nem se avalia a sua condição psicológica, as habilidades que o tornem produtivo, os dons de empatia e a capacidade de comunicação.

Negligenciam-se as chamadas competências socioemocionais, em favor da automática memorização de informações. Por isso é que nem sempre se consegue aprovar o vocacionado, mas a nomeação vai recair sobre aquele que fez uma imersão no acervo de dados e os conservou na lembrança. Tal sistemática atende ao interesse coletivo? Os profissionais assim selecionados são os melhores para servir ao bem comum?

Já se exauriu o tempo de implementar mudança estrutural profunda em todos os níveis da escolaridade. Há bons exemplos, principalmente na esfera internacional. Mas também no Brasil, na iniciativa Lab_Arte da Faculdade de Educação da USP, onde se desenvolve um projeto de inclusão de artes e cultura no aprendizado. Trabalha-se ali, por exemplo, com jogos teatrais e cineclube. Dentre os jogos, incluem-se os de palavras e a dublagem, desenvolvidos na oficina de Jogos Teatrais.

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Dublagem e jogos das palavras são alguns dos jogos trazidos na oficina de Jogos Teatrais, do Lab_arte que começa com atividades de aquecimento, como jogos de memorização e números. Na dinâmica Coisa boa, coisa ruim, por exemplo, cada participante compartilha um acontecimento ruim e outro bom da sua semana.

É uma estratégia de se estabelecer uma rede de relacionamentos nas classes, que não só podem ser espaços de brincadeira, mas que também criam ambientes favoráveis ao fortalecimento de amizades.

Outra boa experiência é o Cineclube Café, uma oficina que congrega pessoas para rodas de conversação inspiradas em filmes. O cinema e suas narrativas contribuem para a reflexão sobre temas construtivos de visibilidades distintas. O intuito é despertar o olhar sensível, a estética e a poética, de forma a ampliar a compreensão e pertencimento

de visibilidades e despertam o olhar sensível, a estética e a poética, de modo que ampliem a nossa compreensão e ideia de pertencimento ao mundo. Para inspirar as escolas que pretenderem adotar táticas mais criativas para aprimorar o aprendizado de seus alunos, é sempre interessante formar corais, que são importantes para harmonizar o ambiente e solidificar relações amistosas. O exercício vocal e o treino musical vão se refletir em outras esferas do convívio social.

Outra boa ideia é a oficina de narração de histórias. Serve para que as pessoas troquem experiências pessoais, contando episódios de sua infância ou vida adulta, além de comparação do trajeto individual com fábulas, lendas, contos e romances disponíveis. As histórias impactam e permitem verdadeira catarse entre os partícipes.

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É promissora a discussão crítica sobre videogames, na oficina “Videogame: cultura e processos educativos”. Não é de hoje que o universo dos jogos, exercitados de maneira lúdica, tem servido à elevação de qualidade do ensino-aprendizado. Há espaço também, nos encontros do “Pensarte”, para o debate sobre práticas pedagógicas antirracistas, mediante análise do teor e da aplicação da Lei 10.639/03. Tudo com base em linguagens artísticas, tais como dança, música e teatro. O projeto recebeu o nome “Educação Antirracista, à luz das Artes Negrodiaspóricas”.

Existe ainda o “sarau”, que celebra tudo aquilo que se desenvolveu no laboratório, promovendo o encontro dos integrantes. É um microfone aberto e disponível para os que quiserem se apresentar artisticamente, das mais variadas formas.

O Lab_Arte conta ainda com workshops e minicursos, mesas de conversa e lançamento de livros. Muitas outras ideias poderão ser adotadas, a depender da situação específica de cada escola. O importante é conscientizar todos os educadores de que a escola tem de ser sedutora, sem o que ela não cumprirá com os seus elevados objetivos.

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Foto do autor José Renato Nalini
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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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