Precisamos lançar luz sobre a importância de nos atentarmos para a discussão de pioneirismo tecnológico e de políticas públicas de inovação. Acredito que esses dois fatores são fundamentais para avançarmos em direção a um país com mais oportunidades e possibilidades. Esforcei-me para não ser "bairrista", mas temos em terras mineiras dois grandes exemplos. Uma mulher, pioneira no Sul de Minas, rompeu montanhas e inovou o cenário de Santa Rita do Sapucaí. E na cidade de Bambuí, um homem visionário tornou o cerrado um dos biomas mais produtivos do país, colocando o Brasil entre os maiores produtores de alimentos mundiais.
Completando 63 anos de história em 2022, a Escola Técnica de Eletrônica (ETE - FMC) é o sonho consolidado de Luzia Rennó Moreira, conhecida em Santa Rita do Sapucaí como Dona Sinhá Moreira. Pioneira e visionária, Sinhá Moreira fundou, em 1959, a primeira escola técnica de nível médio da América Latina e a sétima do mundo, oferecendo à pequena cidade do sul de Minas Gerais uma nova opção de futuro para além do proposto pela economia cafeeira. Sinhá Moreira faleceu em 1963, contudo, graças ao seu esforço inicial, a cidade é conhecida nacionalmente e internacionalmente como o Vale da Eletrônica, exportando tecnologia de ponta para outros estados e países.
Já Alysson Paulinelli foi indicado, em 2021, ao Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho como patrono da revolução verde brasileira da década de 70, quando investiu recursos em pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas de cultivo no cerrado brasileiro. O cerrado, até então, era considerado uma área praticamente improdutiva. Contudo, Paulinelli, como Ministro da Agricultura, destinou recursos para que fossem pesquisadas novas técnicas e a agricultura tropical tornou o cerrado uma área fértil para produção. Atualmente, o bioma é responsável por grande parte dos alimentos produzidos pelo Brasil. Paulinelli também foi um dos responsáveis pela fundação da Embrapa.
O que os dois grandes profissionais têm em comum? Pessoas que dedicaram parte de suas vidas em prol de um projeto de futuro. A ousadia para pensar a longo prazo trouxe grandes resultados para a sociedade.
Como eleitores, devemos nos atentar para plataformas que estejam propensas a lidar não só com os problemas atuais, mas também a construção de um futuro. Nesse contexto, a economista Mariana Mazzucato destaca o papel estratégico que o Estado ocupa na construção do futuro por meio de políticas públicas de inovação. Considera-se inovação como um termo muito mais amplo que apenas aplicações tecnológicas, mas políticas estratégicas de futuro.
Nos dias atuais, existem dois bons exemplos de como políticas públicas de inovação bem estruturadas podem mudar a realidade local e oferecer à população novas possibilidades de serviços e de desenvolvimento socioeconômico.
O governo holandês, a partir de uma visão sobre quais tecnologias poderiam se tornar estratégicas nos próximos anos, decidiu apostar em um sistema nacional de desenvolvimento da tecnologia de blockchain. A Dutch Blockchain Coalition é uma joint venture da qual o Estado faz parte, atuando para com os cidadãos como garantidor de que as aplicações criadas pelas empresas e universidades serão seguras. Para as empresas, ele atua na regulação e criação de um mercado legalmente estável para o desenvolvimento da tecnologia, reduzindo também os riscos ao adotar essa tecnologia para resolver problemas complexos do próprio governo. Com os centros de estudos, o governo incentivou que fossem criadas matérias em diferentes cursos para ter mão-obra-qualificada para desenvolver e amadurecer a tecnologia. Essa estratégia colocou o país como uma referência mundial na adoção de blockchain e resolveu diversos problemas públicos, gerando a redução de gastos públicos na medida que aumentou a qualidade de serviços.
Shenzhen é um outro exemplo do quão importante é a criação de políticas públicas que fomentem a inovação. A cidade chinesa foi transformada, por meio da integração Estado e empresas, em um polo de tecnologia, deixando de ser uma cidade pequena de pescadores para um dos principais polos de tecnologia do mundo em 30 anos. Além disso, a cidade criou oportunidades de emprego e desenvolvimento social. Trata-se de uma cidade que ainda está em crescimento, tanto do ponto de vista econômico quanto de infraestrutura, sendo o berço de grandes multinacionais chinesas.
Exemplos passados e atuais destacam o que visionários brasileiros já realizaram e o que está sendo feito por outros países. Que possamos utilizá-los como inspiração para cobrar propostas para um futuro dos nossos candidatos. Como dito, estamos em um momento importante para determinar qual história iremos contar para as futuras gerações. Que sejamos visionários e corajosos como Sinhá Moreira e que o governo busque construir políticas públicas inovadoras como Alysson Paulinelli.