Bolsonaro agora diz que não há prova de corrupção no governo

Em nova versão sobre escândalos, presidente reconhece acusações, mas cobra comprovação dos casos; governo atuou para barrar CPI do MEC

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Por Marlla Sabino e Antonio Temóteo
4 min de leitura

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou neste sábado, dia 7, que as suspeitas de corrupção no seu governo não foram comprovadas. Segundo ele, diversas acusações foram feitas sem que as provas tenham sido apresentadas. “Temos um governo que acusam, mas nada provam sobre corrupção”, disse Bolsonaro, durante discurso para uma plateia de apoiadores na Feira Nacional de Soja, em Santa Rosa (RS).

Bolsonaro passou a ter sua imagem mais associada à corrupção por causa de casos revelados pela imprensa, como o escândalo no MEC. Foto: Wilton Junior

A afirmação é uma variante de declarações anteriores do presidente. Bolsonaro costumava dizer que não havia nenhum ato de corrupção no governo. Depois, passou a alegar que não tinha como garantir a inexistência de casos, mas que promoveria investigações. Agora, ele questiona a falta de provas.

O assunto vai entrar em pauta na campanha eleitoral. O principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegou a ser condenado e preso por corrupção, mas teve os processos anulados. Nos governos do PT, foram desvendados os casos do mensalão e do petrolão, que levaram à prisão lideranças políticas de partidos de esquerda e do Centrão, grupo que apoia Bolsonaro.

O presidente passou a ter sua imagem mais associada à corrupção por causa de casos revelados pela imprensa. Como mostrou o Estadão, há indícios já documentados, inclusive com depoimentos de testemunhas, de pelo menos seis escândalos no Ministério da Educação (MEC). Entre eles, estão o sobrepreço de mais de R$ 700 milhões para compra de ônibus escolares, as “escolas fake” e o gabinete paralelo de pastores lobistas, direcionando recursos da pasta.

No fim de março, o então ministro Milton Ribeiro foi obrigado a deixar o cargo diante das denúncias de que os pastores de sua confiança cobravam propina em dinheiro e barras de ouro, como revelado pelo jornal.

Os casos são alvo de investigação em diferentes, pela Polícia Federal, Ministério Público, Controladoria-Geral da União e Tribunal de Contas da União. O Palácio do Planalto, por sua vez, agiu para barrar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. Ministros e interlocutores do presidente pressionaram senadores a retirar o apoio à comissão.

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A CPI da Covid, no ano passado, obteve denúncias de cobrança de propina na aquisição de vacinas, pelo Ministério da Saúde.

Em outra frente, a PF apura o possível desvio de emendas parlamentares por parte de congressistas da base bolsonarista. Entre eles, deputados do PL, partido de Bolsonaro, como Josimar Maranhãozinho (MA).

O presidente e seus familiares, entre eles o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), já foram acusados de obter verbas públicas por meio de esquemas de “rachadinha”, antes do atual mandato presidencial. Jair Renan, o filho mais novo do presidente, é investigado por suspeita de tráfico de influência e lavagem de dinheiro, em inquérito da PF aberto por causa de reuniões que ele teria intermediado para empresas no governo do pai. Todos negam irregularidades.

Armas

No discurso para os produtores de soja, Bolsonaro incentivou a compra de armas de fogo, tema caro a sua base de apoiadores no campo. Ele disse que a segurança do País é garantida pelas Forças Armadas e por aqueles que compram suas próprias armas.

“Sempre digo que o povo armado jamais será escravizado. Esse governo não teme, pelo contrário, fica feliz quando cidadãos de bem buscam comprar arma de fogo”, disse o presidente.

Bolsonaro afirmou ainda que tem o dever de zelar pela democracia e pela liberdade do povo. Os produtores de soja compõem um segmento apoiador do governo, que esteve diretamente envolvido em protestos de viés autoritário no ano passado, como as mobilizações do Sete de Setembro e de 15 de maio, contra os demais poderes e a favor de Bolsonaro.

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A Petrobras também voltou a ser alvo das críticas de do presidente, que comparou nesta sexta-feira, dia 6, o lucro da companhia a um “estupro”. Bolsonaro afirmou que a empresa fatura dezenas de bilhões de reais por ano, “a custo do povo brasileiro”. Ele também disse que os brasileiros não aguentam mais reajustes nos preços dos combustíveis.

“Essa semana vocês estão conhecendo um pouco mais do que é a Petrobras no Brasil. Temos redutos ainda em nosso governo, espalhados por todo o País, que não entenderam que todos nós estamos no mesmo barco. Eles sabem que o Brasil não aguenta mais reajuste de combustível em uma empresa que fatura dezenas de bilhões de reais por ano, a custo do nosso povo brasileiro”, disse.

Após o discurso, a visita ao evento da Fenasoja tomou ares de ato de campanha. O presidente visitou estandes, tirou fotos com participantes e foi ovacionado com um buzinaço de tratores, colheitadeiras de soja e caminhões. Ele subiu em tratores, assistiu aos trabalhos com o grão e ouviu gritos de mito. Tudo registrado e transmitido ao vivo pela TV Brasil.

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