Bolsonaro convoca apoiadores para ir às ruas no 7 de Setembro e retoma ataques ao STF

Em convenção que confirmou sua candidatura à reeleição, presidente chama ministros do Supremo de ‘surdos de capa preta’

PUBLICIDADE

Foto do author Rayanderson Guerra
Foto do author Eduardo Gayer
Foto do author Felipe Frazão
Por Rayanderson Guerra , Eduardo Gayer , Felipe Frazão e Vinicius Neder
Atualização:

RIO - O presidente Jair Bolsonaro (PL) transformou ontem a convenção nacional do PL, que o oficializou como candidato à reeleição, numa convocação de apoiadores para atos de ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 7 de setembro. Ele instou os presentes ao ginásio do Maracanãzinho, no Rio, a irem às ruas pela “última vez”. Sem citar nominalmente nenhum ministro da Corte, referiu-se a eles como “surdos de capa preta”.

“Nós não vamos sair do Brasil. Somos a maioria, nós temos disposição para a luta. Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de setembro, vá às ruas pela última vez. Estes poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo, têm que entender que quem faz as leis são o Poder Executivo e o Legislativo. Têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição”, disse Bolsonaro, enquanto apoiadores gritavam das arquibancadas “Supremo é o povo”.

Jair e Michelle Bolsonaro em evento de confirmação de candidatura no Rio. Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

O ato de 7 de setembro preocupa a Corte, que montou um plano de segurança especial, depois da invasão da Esplanada dos Ministérios por bolsonaristas no ano passado. Diante de cerca de 12 mil presentes, segundo o PL, o presidente viu o deputado Daniel Silveira (PL-RJ) ser ovacionado. O parlamentar, ícone do enfrentamento do Palácio do Planalto com o Judiciário, foi condenado por ataques à democracia, mas o presidente perdoou a pena antecipadamente, à revelia do STF.

Fraude

PUBLICIDADE

O presidente evitou citar as urnas eletrônicas, mas falou genericamente em “fraude”, referência tácita à campanha de descrédito que promove contra o sistema de votação, e disse que só pretende passar o comando do País, “lá na frente”, a alguém eleito de forma “transparente”. “Nós, militares, juramos dar a vida pela pátria. Todos vocês aqui juraram dar a vida por sua liberdade. Repitam aí: eu juro dar a vida pela minha liberdade”, disse o presidente, dirigindo-se à arquibancada do ginásio e ao ex-ministro e agora candidato a vice, general Walter Souza Braga Netto. “Esse, Braga Netto, é o nosso exército. O exército do povo. É o exército que está do nosso lado. É o exército que não admite corrupção, não admite fraude. Esse é o exército que quer transparência, quer respeito. Quer, não. Merece e vai ter”.

Bolsonaro explicou ter escolhido um general como vice porque precisa de alguém que “não conspire” na posição e defendeu a presença de mais de 6 mil militares em cargos no governo.

Apesar dos casos já identificados, como o gabinete paralelo revelado pelo Estadão no Ministério da Educação, Bolsonaro mudou novamente o discurso, voltou atrás e reafirmou que seu governo está há três anos e meio “sem corrupção”.

Acenos e promessas

Mesmo falando de improviso, o presidente seguiu um roteiro estratégico. Em um discurso de 1 hora e nove minutos, deu recados diretos a segmentos que o apoiam, como evangélicos, militares e conservadores. Fez ainda acenos a grupos de eleitores entre os quais apresenta o pior desempenho, como mulheres, jovens e os mais pobres.

Publicidade

Dentro do script da campanha, Bolsonaro destacou criação do teto do ICMS para combustível e para energia elétrica, a construção de ferrovias comandada pelo então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, pré-candidato ao governo de São Paulo, e a atuação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na aprovação de pautas do governo.

“Lira tem colaborado muito com o nosso governo. Graças ao Lira conseguimos aprovar leis que abaixaram os combustíveis. Se não fosse o Arthur Lira, esse cabra da peste de Alagoas, não teríamos chegado a esse palco”, afirmou Bolsonaro.

A única promessa eleitoral do presidente foi estender para o ano de 2023 o pagamento do Auxílio Brasil a R$ 600, previsto originalmente para terminar em dezembro próximo.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, um dos focos do megaevento era diminuir a resistência a Bolsonaro entre as mulheres e mostrar um candidato preocupado com questões econômicas e sociais. Como planejado pela equipe da campanha, a primeira-dama Michelle Bolsonaro ficou ao lado do presidente durante todo evento.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Até então resistente a se engajar na campanha, a primeira-dama abriu a convenção com um discurso de tom religioso, voltado ao eleitorado feminino. “Falam que ele não gosta de mulheres. Ele foi o presidente na história que mais sancionou leis de proteção às mulheres”, disse ela, que citou passagens bíblicas e falou do sofrimento da família com a facada que Bolsonaro levou em 2018.

O núcleo político da campanha desaprovou o tom de enfrentamento, mas o marketing celebrou a participação de Michelle. Um auxiliar do presidente classificou o discurso da primeira-dama como o “ponto alto” da convenção.

O ato político ainda sacramenta de uma vez por todas o casamento entre militares e Centrão: à revelia de todos os conselheiros políticos, Braga Netto foi oficializado candidato a vice. A ala política do Palácio do Planalto tentou emplacar a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), para tentar suavizar a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres. Mas o presidente fez questão de ter o militar como forma de “seguro impeachment” em um eventual segundo mandato.

Publicidade

O partido não revelou quanto investiu na convenção. No fim do ano passado, o ato de filiação de Bolsonaro ao PL, cerimônia de menor proporção, custou R$ 370 mil, pagos majoritariamente com recursos do Fundo Partidário.

O PL estima que 12 mil pessoas, incluindo a equipe do partido e a imprensa, comparecerem ao evento. A expectativa divulgada ao longo da semana era de 10 mil pessoas.

Críticas ao ex-presidente Lula

Após seguir a orientação da equipe de campanha em parte do evento, Bolsonaro retomou um discurso voltado para sua base eleitoral, com um tom conservador, no fim de sua fala. O presidente fez críticas a uma suposta “ideologia de gênero”, contra a legalização das drogas e do aborto e com ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro disse que Lula pretende legalizar o aborto e as drogas no Brasil, caso volte à Presidência da República, e chamou o ex-presidente de “cachaceiro”, “nove dedos”, “descondenado” e “bandido”. O presidente disse ainda que o governo federal está há três anos e meio sem corrupção e que os “jovens de esquerda” devem fazer uma comparação entre os dois governos antes de escolher o voto.

“Vocês sabem o que vou fazer se for reeleito de forma transparente e democraticamente”, diz Bolsonaro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.