PUBLICIDADE

Bolsonaro diz a TV americana que racismo no Brasil ‘não é da forma como é descrito’

Segundo o presidente, o fato de seu sogro ser conhecido como ‘Paulo Negão’ demonstra como o tema é tratado no País; em entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson, da Fox News, o chefe do Executivo também elogiou a decisão dos EUA de dificultar o aborto

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou a existência do racismo no Brasil em entrevista à TV americana Fox News. Na conversa com o jornalista conservador Tucker Carlson, que foi ao ar na noite desta quinta-feira, 30, o chefe do Executivo destacou que “os ídolos do futebol” são, em sua maioria, afrodescendentes, e criticou o que chamou de “divisão” entre brancos e negros.

PUBLICIDADE

Questionado pelo âncora americano se a esquerda tenta implementar “políticas identitárias” no País aos moldes dos Estados Unidos, Bolsonaro afirmou que as pautas relacionadas a esse tema, como as que abordam raça e orientação sexual, por exemplo, são uma forma de dividir a população entre “brancos e negros”, “empregados e empregadores”, “nordestinos e sulistas”, entre outras polarizações.

“Existe racismo no Brasil, como em todo lugar do mundo, mas não da forma como é descrito”, disse, acrescentando que seu sogro é conhecido como “Paulo Negão”, mesmo tendo a cor da pele e dos olhos clara. “Nossos grandes ídolos de futebol são afrodescendentes”, completou.

O presidente aproveitou a recente polêmica sobre aborto nos Estados Unidos para destacar sua posição sobre o tema. Ele afirmou a Carlson que considerou positiva a decisão da Suprema Corte dos EUA de delegar aos estados a tarefa de legislar sobre a interrupção da gravidez, o que, na prática, proíbe o aborto em boa parte do país.

Na mesma entrevista, Bolsonaro justificou seus posicionamentos com base em “valores cristãos” e afirmou que a esquerda brasileira é composta, em grande parte, de “ateus que não respeitam nada”. O presidente também acusou opositores de agressão a padres e pastores e invasões a igrejas.

“Quando a Suprema Corte americana mudou o entendimento sobre o aborto, a esquerda brasileira não gostou. Nós gostamos da vida. O Lula, mesmo, disse que o aborto é uma questão de saúde pública, a mulher é quem decide”, afirmou.

Jair Bolsonaro em entrevista ao jornalista norteamericano Tucker Carlson, do canal Fox News. Foto: Reprodução

STF

Bolsonaro lembrou que o presidente eleito este ano terá ao menos duas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo do mandato. Segundo ele, se o petista sair vitorioso do pleito, indicará magistrados favoráveis à interrupção da gravidez. O chefe do Executivo também fez críticas ao ministro da Corte Luís Roberto Barroso, mas ponderou que este afirmou, recentemente, não haver “clima” para discutir aborto no STF.

Publicidade

Nos Estados Unidos, o enfrentamento ideológico em relação às “pautas identitárias” foi um dos grandes temas do governo de Donald Trump, ex-presidente americano apoiado por Bolsonaro. No último ano de seu governo, em 2020, explodiram no país protestos contra o assassinato de George Floyd, morto por um policial branco, e as manifestações logo foram ampliadas para o enfrentamento ao racismo em geral, explorando o mote “black lives matter” (vidas negras importam).

À época, Tucker Carlson afirmou que a morte de Floyd ocorreu por causa de uma overdose de drogas. O apresentador acusou políticos do partido Democrata de usar o episódio como um “movimento político para controlar o país e mudá-lo para sempre”. Carlson é um dos defensores e ajudou a popularizar a teoria da “Grande Substituição”, que prega a existência de uma conspiração para substituir os brancos por outras minorias.

As pautas de “costumes” constituem uma das grandes plataformas eleitorais do presidente Bolsonaro. Em participação recente no evento Marcha para Jesus, em Balneário Camboriú (SC), o chefe do Planalto afirmou que as eleições deste ano serão uma “luta do bem contra o mal”. Em diversas ocasiões, ele descreve a esquerda como oposto dos preceitos religiosos evangélicos, segmento no qual ele lidera. Nas redes sociais, políticos aliados da parte “ideológica” do governo, como o próprio filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP), já descreveram o duelo com a esquerda como uma “guerra espiritual”.

Amazônia

O presidente criticou celebridades americanas que cobram o governo brasileiro pela preservação da Amazônia, como o ator Leonardo DiCaprio, e disse ser falsa a acusação de que a floresta esteja sendo destruída durante a sua gestão. “Essas pessoas não entendem absolutamente nada do Brasil, eu acho que ele nunca esteve na Amazônia”, disse. “Falam porque está na moda”.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Como mostrou o Estadão, a Amazônia Legal registrou recorde de desmatamento de janeiro a maio deste ano e em 151 dias derrubou 3.360 km² de floresta, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A área desmatada foi a maior em 15 anos.

Com 1.476 km² de desmatamento, o último mês também foi o pior maio já registrado desde 2008, ano em que o Imazon passou a monitorar a floresta. Segundo Bolsonaro, a região de fato enfrenta problemas, mas não na mesma proporção com que o assunto repercute internacionalmente. O presidente voltou a acusar críticos de seu governo mundo afora de “relativizar a soberania” do Brasil sobre o bioma.

O chefe do Executivo argumentou que o problema dos incêndios no bioma pode ser resolvido com regularização fundiária. Desse modo, segundo ele, será possível saber se os focos de calor se originam de terras de propriedade da União, de agricultores ou de “reservas indígenas”.

Publicidade

“O crime, de fato ele acontece, e não vou negar, mas é dada muita visibilidade a isso porque há um interesse em relativizar a soberania da Amazônia”, afirmou. “A Amazônia equivale à Europa ocidental, é uma área enorme, é impossível tomar conta de tudo. Existe o desmatamento ilegal, existem os incêndios, mas não nessa proporção. A Califórnia pega fogo quase todo ano e não tem essa repercussão toda lá fora”.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.