Bolsonaro faz mudanças no Ministério para estruturar campanha à reeleição

Presidente negocia filiação ao Progressistas, partido do novo ministro Ciro Nogueira, um dos líderes do Centrão; sigla tem forte presença no Nordeste

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Foto do author Felipe Frazão

BRASÍLIA - A entrada do senador Ciro Nogueira (PI) na Casa Civil, confirmada nesta terça-feira, 27, representa um movimento político importante para o presidente Jair Bolsonaro em um momento de crescente perda de popularidade do governo. Ao levar o Centrão para a “cozinha” do Palácio do Planalto, Bolsonaro avança várias casas no jogo para barrar o impeachment, atrai apoio no Senado e tenta alavancar sua campanha ao segundo mandato, em 2022. Presidente do Progressistas, Nogueira foi confirmado ministro e capitão do time bolsonarista com a missão de diminuir o desgaste de Bolsonaro, alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, tirar o governo da rota de colisão e conquistar aliados.

O presidente se reuniu nesta terça-feira, 27, com Nogueira e acertou que ele será o responsável, a partir de agora, pela articulação política do Planalto com o Congresso. Sem partido, Bolsonaro negocia a filiação ao Progressistas e quer contar com a estrutura da sigla PP, forte no Nordeste, em sua tentativa de reeleição.

Bolsonaro ao lado do novo ministro, Ciro Nogueira, durante em evento em Brasília. Foto: Evaristo Sá/AFP

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Com a estratégia de ceder espaço ao Centrão, o presidente faz a 27.ª mudança na equipe em dois anos e meio de mandato e tira o protagonismo de generais sem voto, como o ministro Luiz Eduardo Ramos, que deixou a Casa Civil e foi deslocado para a menos prestigiada Secretaria-Geral, até então ocupada por Onyx Lorenzoni. Visto como um curinga, Onyx já passou por outras três pastas e recebeu a promessa de ser transferido para Emprego e Previdência, que será recriado com o desmembramento do Ministério da Economia.

Nogueira é o quarto titular da Casa Civil. Antes dele ocuparam o cargo o próprio Onyx, Walter Braga Netto – hoje ministro da Defesa – e Ramos. Na prática, o senador assume sob a desconfiança da ala militar do governo, que vem perdendo poder. Ao Estadão, Ramos chegou a dizer, na semana passada, que havia sido “atropelado por um trem” ao saber da troca na Casa Civil. 

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Bolsonaro tentou contemporizar o mal-estar, uma vez que Ramos tentou dissuadi-lo da mudança algumas vezes. “O general Ramos é uma excepcional pessoa, é meu irmão. Agora, com o linguajar do Parlamento, ele tinha dificuldade. É a mesma coisa que pegar o Ciro Nogueira e botar ele (sic) para conversar com generais do Exército.”

Diante das críticas de que contrariou promessas de campanha ao se casar de papel passado com o Centrão, Bolsonaro disse que precisa melhorar a interlocução com o Congresso. “Fomos nos moldando”, argumentou ele nesta terça-feira.

A saída de Nogueira – até agora titular da CPI da Covid – põe o senador Flávio Bolsonaro, filho 01 do presidente, como suplente da comissão. A cadeira do presidente do Progressistas será ocupada pelo correligionário Luiz Carlos Heinze (RS) e, para o lugar dele, entra Flávio. Nogueira deve tomar posse na próxima semana. Ao entrar no governo, ele também deixa temporariamente o comando do Progressistas, que passa para o deputado André Fufuca (MA).

“Acabo de aceitar o honroso convite para assumir a chefia da Casa Civil, feito pelo presidente Jair Bolsonaro. Peço a proteção de Deus para cumprir esse desafio da melhor forma que eu puder, com empenho e dedicação em busca do equilíbrio e dos avanços de que nosso país necessita”, escreveu Nogueira no Twitter.

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O novo ministro é réu da Lava Jato e responde a cinco processos na Justiça. Entre eles estão inquéritos que investigam propina recebida da Odebrecht e da JBS. Ele nega as acusações.

Na Câmara, Bolsonaro conta com o presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL), mas até agora não tinha nenhum integrante do Senado na equipe. É ali que serão sabatinados o advogado-geral da União André Mendonça, indicado por Bolsonaro para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), e o procurador-geral da República Augusto Aras, candidato à recondução ao cargo.

Nessa nova reforma da equipe, o presidente aumenta para 23 o número de ministros. Seriam 24, não fosse a autonomia do Banco Central (que perdeu status de ministério). Em 20018, sua plataforma de governo previa a redução de pastas e um gabinete enxuto. Naquela campanha, Bolsonaro fazia críticas contundentes à velha política e ao toma lá, dá cá, acusava o PT de fisiologismo e prometia jamais lotear o governo. 

O general Augusto Heleno Ribeiro, hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chegou a cantarolar uma música trocando o termo “ladrão” por “Centrão”. “Se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão”, ensaiou Heleno numa convenção do PSL, antigo partido de Bolsonaro, mudando o verso da letra de “Reunião de Bacanas”.

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“Eu sou do Centrão”, disse Bolsonaro no sábado, na esteira de críticas à contradição entre seu discurso e a prática, ao lembrar que foi filiado ao Progressistas, então PP, por onze anos.

Estrutura

Em fase de expansão, o partido de Nogueira está filiando ministros, como Fábio Faria (Comunicações), de saída do PSD. O Progressistas tem atualmente a terceira maior bancada na Câmara com 41 deputados. No Senado, são sete parlamentares. Em 2020, consolidou-se como um partido médio no Congresso e cresceu fora dele com as eleições municipais. Foi um dos três partidos com maior aumento no número de eleitos. 

Elegeu 685 prefeitos e 6,3 mil vereadores, atrás apenas do MDB, que tem 784 prefeitos e 7,3 mil vereadores. Nogueira administrou a quarta maior fatia dos recursos do Fundo Eleitoral, que Bolsonaro propõe dobrar para R$ 4 bilhões, no ano que vem. Se o acordo com o Congresso vingar, o Progressistas deve ficar com cerca de R$ 280 milhões para a eleição nacional.

O novo ministro não vê problemas em mudar de lado político. Menos de três anos atrás, Nogueira era aliado dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva – hoje principal adversário de Bolsonaro – e de Dilma Rousseff. Em 2018, durante campanha para conseguir mais um mandato como senador, Ciro chegou a defender no seu Twitter que deixar Lula de fora da disputa presidencial – o petista estava preso – era “tirar do eleitor um direito de escolha”. E ainda afirmou que ficaria com Lula “até o fim”.