Bolsonaro volta a criticar CPI e medidas de isolamento em discurso a apoiadores após motociata em SC

Presidente participou de passeio de moto nos municípios de Chapecó e Xanxerê, no oeste do Estado; em sua fala, voltou a criticar medidas de isolamento e a acusar, sem provas, de haver fraudes nas eleições

PUBLICIDADE

Por Vinicius Rigo
Atualização:

CHAPECÓ - Dois meses após visitar Chapecó pela primeira vez, o presidente Jair Bolsonaro voltou à maior cidade do oeste de Santa Catarina para cumprir agenda na tarde de sexta, 25, e participar de uma motociata com apoiadores neste sábado, 26. O evento reuniu milhares de pessoas, percorrendo mais de 80 quilômetros entre Chapecó e Xanxerê.Ao retornar ao município que foi ponto de partida, Bolsonaro discursou a apoiadores do alto de um trio elétrico ao lado da Arena Condá e, mesmo que falasse em tom político, garantiu que o ato não tem relação com a campanha presidencial do próximo ano. Voltou a criticar medidas de isolamento e a defender o voto impresso, acusando, sem provas, de haver fraudes nas eleições. Além disso, afirmou que a CPI da Covid é conduzida por "sete pilantras", mas ignorou as acusações mais recentes de omissão, como as do depoimento dos irmãos Miranda. A fala foi transmitida ao vivo em rede social. No vídeo, é possível ver que os apoiadores não cumpriam distanciamento social para ouvir a fala.

Presidente Jair Bolsonaro durante motociata com apoiadores em Santa Catarina neste sábado, 26; na garupa, o prefeito de Chapecó, João Rodrigues. Foto: MONIA CRIS / ESTADÃO

PUBLICIDADE

"O Brasil ainda passa por um momento difícil. Desde o começo, falei que teríamos dois problemas. O vírus e o desemprego. Eu fiz a minha parte, não fechei um 'botequim' sequer. Não decretei lockdown e nem toque de recolher. Porque eu respeito a nossa Constituição", apontou ele em nova crítica à gestão de governadores para frear a pandemia do novo coronavírus.

Bolsonaro não comentou diretamente o caso do contrato das vacinas Covaxin, denunciado pelo deputado Luis Miranda e seu irmão, mas criticou a condução da investigação. “Temos uma CPI de sete pilantras que não querem investigar quem recebeu o dinheiro. Apenas quem mandou o dinheiro. Lamentavelmente, o Supremo decidiu pela CPI, e decidiu também que governadores (fossem desobrigados) a comparecer à mesma. Querem apurar o quê? No ‘tapetão’, não vão levar”, afirmou. A CPI é composta por 11 senadores titulares e sete suplentes.

O presidente tampouco mencionou a semana conturbada de pesquisas apontarem queda de sua popularidade. Apenas criticou o seu adversário político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de "vagabundo", e voltou a defender o voto auditável. “Tem eleições no ano que vem e, se Deus quiser e com o apoio do parlamento, o voto (será) auditável. Vamos botar um fim na fraude que deve acontecer, com toda certeza, a cada eleição. Tiraram um vagabundo da cadeia, tornaram esse vagabundo elegível. Querem, agora, torná-lo presidente pela fraude”, afirmou. Não há registro de fraude comprovada em eleições com a urna eletrônica.

Bolsonaro lidera motociata em Santa Catarina neste sábado, 26. Foto: MONIA CRIS / ESTADÃO

Na última pesquisa do instituto Ipec, divulgada ontem, Lula lidera a corrida eleitoral para a presidência com 49% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro.

A motociata começou por volta das 9h, mas apoiadores se concentravam desde as primeiras horas da manhã. Bolsonaro estava acompanhado de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que também transmitiu parte do passeio pelas redes sociais, e do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), andava na garupa do presidente, também sem máscara.

O prefeito também falou aos manifestantes e defendeu Bolsonaro durante o seu discurso. "Nos trouxe felicidade, paz e vontade de continuarmos nessa caminhada. No caminho do bem. Encerramos com chave de ouro. Não importa o que dirão. O que importa, é o que vivemos hoje", comemorou. Apoiador do presidente, Rodrigues divulgou o evento com o presidente ao longo da semana. "Preparem-se", dizia a legenda de um vídeo com imagens de outras motociatas.

Publicidade

Chapecó enfrenta um momento crítico da pandemia. O município de pouco mais de 220 mil habitantes registrou 648 mortes pela covid-19 e, até ontem, tinha 96% dos leitos de UTI da rede pública lotados, segundo boletim divulgado no site da Prefeitura.

Presidente Jair Bolsonaro participa de motociata em Santa Catarina neste sábado, 26. Foto: Vinicius Rigo

Durante os dois dias de visita, nenhum grande anúncio foi feito por parte do governo federal. Nesta manhã, ao lado do ministro Tarcísio, Bolsonaro também garantiu aos motociclistas que nas novas concessões de rodovias, eles não serão obrigados a pagar pedágio. "O Tarcísio está negociando, ainda, com as concessionárias que já têm contrato em vigor, para que esses pedágios também sejam isentados", afirmou.

Na tarde de ontem, o presidente visitou a Arena Condá e as instalações da Chapecoense; depois, também se encontrou com empresários da região. Em discurso, mencionou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de garantir que governadores não sejam inquiridos pela CPI da Covid e disse ser “inacreditável” o que acontece na Corte; apoiadores, então, pediram o fechamento do Supremo.

Nos últimos meses, apoiadores do presidente têm organizado os passeios de motocicleta em apoio ao chefe do Executivo. Bolsonaro já participou de motociatas em Brasília, no Rio e em São Paulo. Neste último, realizado no dia 12 de junho, o presidente foi multado em R$ 552,71 pelo governo do Estado por não usar máscara durante o percurso.

Também segundo o governo de São Paulo, o evento custou R$ 1,2 milhão aos cofres públicos do Estado, devido ao esquema de segurança montado para o dia. /COLABOROU BRENDA ZACHARIAS

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.