Para o colunista do Estadão Carlos Andreazza, o ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, 6, explorou os efeitos do caso de Débora Rodrigues dos Santos, cabeleireira de Paulínia, no interior do Estado, que participou dos atos de vandalismo de 8 de Janeiro.
Ela foi a responsável pela pichação da frase “perdeu, mané” na estátua “A Justiça”. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou pela condenação de Débora a 14 anos de prisão, e foi seguido pelo ministro Flávio Dino. O julgamento foi pausado por pedido de vista de Luiz Fux.
Para Andreazza, a situação de Débora é um “caso escancarado e óbvio de grande injustiça” que abastece o discurso de Bolsonaro em prol da anistia aos envolvidos nos atos de vandalismo. “A injustiça mobiliza”, afirma o colunista, que considera desproporcional a pena proposta pelo relator.
Segundo Andreazza, o “efeito Débora” foi a principal diferença entre o ato convocado na orla de Copacabana, no Rio, em 16 de março, e a manifestação convocada para a principal via da capital paulista neste domingo.
O que você precisa saber para acompanhar o papo:
Em depoimento, Débora confirmou que vandalizou a escultura, mas disse que agiu no “calor do momento”. Ela afirmou que não sabia o valor simbólico da estátua. Em seu voto, Moraes considerou que o tempo de pena para Débora também deveria levar em conta que a cabeleireira se juntou a centenas de invasores que tinham como propósito a deposição do Estado de Direito.
Por ter se juntado ao grupo “de maneira livre, consciente e voluntária”, ela acusada pelos crimes de associação criminosa armada, tentativa de abolição do Estado de Direito e tentativa de golpe de Estado. Somados, esses delitos correspondem a 10 anos e seis meses – a maior parte da pena calculada pelo relator.
Ainda que considere a situação de Débora uma “injustiça”, Andreazza sugere que a menção ao caso da cabeleireira de Paulínia, na verdade, é uma “exploração” do caso pelos bolsonaristas.
A eventual anistia aos envolvidos nos atos de vandalismo do 8 de Janeiro é uma medida que pode beneficiar Jair Bolsonaro, réu por decisão da Primeira Turma do STF. A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que o ex-presidente foi responsável por uma tentativa de golpe que teve no ataque aos Três Poderes seu ato derradeiro.
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