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Opinião | Governo fora da realidade ignora inflação e renega responsabilidade sobre segurança, pautas de 2026

O país que não baixa a cabeça para Trump, tampouco protege o seu trabalhador, seja da criminalidade ou da alta dos preços que deixa a picanha ausente do carrinho de compras

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Foto do author Carlos Andreazza

Lula discursou no evento de celebração dos dois anos de seu Dilma III. Foi no dia seguinte à divulgação de mais uma pesquisa captadora da impopularidade – espalhada e insistente – do presidente. O mote do triste sarau: o “Brasil dando a volta por cima”. Mais exato seria: o governo tentando dar a volta por cima. Está ora por baixo. Por baixo e por fora. Um perigo.

Fora da realidade. Donde não haver Lula falado em inflação. Nem sequer uma vez. A inflação – espalhada e insistente – não existiu. Não no louvor. O país está “no rumo certo” – o que ouvimos. Um Brasil menos desigual; o seu povo com renda crescente num país que cresce – essa mesma renda que é comida pela carestia produzida sob a sustentação artificial do voo de galinha em que consiste o crescimento econômico brasileiro.

Lula em evento do governo para apresentar balanço de dois anos de mandato Foto: Wilton Júnior/Estadão

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O Brasil que dá a volta por cima é – de slogan em slogan – o Brasil que é dos brasileiros. País que não baixa a cabeça para os EUA e que protege o seu trabalhador. A oposição de natureza patriótica a Trump, tendo o tarifaço por gancho, até faz sentido politicamente. A questão, no mundo real, sendo se o brasileiro, o que pisa na rua, sente que o Brasil é seu.

O país que não baixa a cabeça tampouco protege o seu trabalhador – o cara que sai de casa sem saber se chegará ao mercado, lá onde verá o seu dinheiro desaparecer. O cara que não sabe se chegará com grana ao mercado, onde, chegando, verá minguar a sua grana – sem poder comprar pedaço de alcatra. O Brasil é de Brasília e do crime organizado.

Inflação e segurança pública. Dois mil e vinte seis será.

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Inflação ignorada por Lula no palanque, quiçá por causa da picanha ausente. Uma injustiça. Fala tanto em colher o que plantou. O governo dele é criador da bicha e enfrenta a impopularidade dobrando a aposta em medidas inflacionárias. O presidente, a propósito, exaltou a TV 3.0, a do futuro, cujos componentes o brasileiro talvez consiga comprar pegando “o empréstimo do Lula”, aquele, com juros baixos, garantido pelo FGTS – fundo que é do brasileiro, que rende porcamente, e que o brasileiro não pode usar como e quando quiser.

E a segurança pública? O ministro da Justiça é Lewandowski. Aqui deveria deitar o ponto final. Estamos em 2025, as pessoas não conseguem escolher o provedor da internet que terão em casa, porque o traficante-miliciano não deixa, e o governo Lula ora combatendo o crime – que baixa barricada na avenida Brasil – por meio da atualização do programa Celular Seguro.

Nesse “me engana que eu gosto” contida a comunicação de que segurança pública não é responsabilidade do governo federal, como se drogas e armas fossem produzidas no Rio de Janeiro ou em São Paulo – como se houvesse algum controle das fronteiras, por onde PCC e CV, nossas multinacionais de maior sucesso, transitam livremente.

Segurança pública e inflação. Dois mil e vinte seis será.

Opinião por Carlos Andreazza

Andreazza escreve às segundas e sextas. Também apresenta, de segunda a sexta, o programa multiplataforma Estadão Analisa. É apresentador e colunista da Rádio BandNews FM. Foi colunista do jornal O Globo e âncora da rádio CBN.

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