Lula botou o bloco na rua. Já está viajando. Viajando no sentido de se deslocar. Vai circular pelo Brasil, o da comida cara. A ver se colocará os pés nos chãos do País; para ver, reconhecer, as gentes, que um dia entendeu e de cujo pulso perdeu a mão.
Deu na Coluna do Estadão: “cercado apenas por correligionários no Planalto”, o presidente só ouviria “a voz do próprio partido” e teria perdido o “termômetro real do Congresso e das ruas”.

A avaliação, proveniente da tal base aliada (que base de apoio não dá), é de quem quer lugar na cozinha do palácio. A pretensão do analista não torna errada a análise. O encastelado Lula vai assessorado por petistas menos pesados, também menos íntimos, que não têm coragem de lhe dizer verdades. Tudo indica que trocará um deles por Gleisi Hoffmann. Caso em que, tendo ou não termômetro, a temperatura subirá.
O presidente está viajando.
Esteve no Rio e na Bahia, na semana passada. Irá ao Amapá e ao Pará, nesta. Estratégia de viagens concebida em resposta à popularidade caída. Para isso veio o marqueteiro de 2022, feito ministro com o objetivo de tocar a campanha pela reeleição. Não será barata, em dinheiros públicos; e será decerto facilitada pela forma larga, espalhada, como se gastou até aqui. A porta – escancarada pela PEC da Transição – está arrombada. Faz tempo. E doravante será somente um tiro curto até o ano eleitoral.
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É fevereiro de 2025 e o bloco, com ou sem povo, já está na rua. Tem por estandarte a sustentação artificial do voo de galinha em que consiste o badalado crescimento econômico brasileiro. Aquele que entrega o aumento da massa salarial, oba!, a ser imediatamente devorado pela inflação de alimentos que o estímulo estatal ao consumo faz encorpar.
Na sexta, discursando na baiana Paramirim, Lula exibiu um dos motores por meio dos quais deseja dobrar a aposta e manter a galinha voando, como se águia, até 2026: “Eu quero mais crédito para o povo”. Crédito sobretudo via bancos estatais. Crédito estatal, para forjar demanda. Padrão.
E explicou por que é correto afirmar que seu governo tolera a inflação e mesmo opera com ela: “Na hora que o dinheiro começa a circular na mão das pessoas, ninguém aqui vai comprar dólar. Ninguém vai depositar no exterior. Vocês vão comprar comida. Vão comprar roupa. Vão comprar material escolar. E vocês vão melhorar a vida da cidade de vocês.”
Desenhou. É o projeto Dilma, em Dilma III, para Dilma IV. Jorrar bilhões na praça, encharcar a indução ao consumo, atravessar 25 pedalando e fantasiando o sobreaquecimento da economia de desenvolvimento orgânico – e chegar forte, competitivo, a 26, para então fazer o diabo e reivindicar, pela reeleição que será também do Parlamento, uma PEC Kamikaze; como teve Bolsonaro. Está escrito.