De modo que os alarmes da presidente Dilma Rousseff são, antes, estratégia de quem não consegue conter os próprios vícios; o alcoólatra que, sabe, caminha para a autodestruição previsível. Dinâmicas assim contam com a colaboração da suposta vítima, que também é cúmplice: perde-se o mandato por incapacidade de se impor ao processo político do qual se é o ator principal. O inferno não está só nos outros.
Eleição legitima, mas não basta. O poder carece de qualidade: rumo, futuro; comunicação; garantia de segurança. Credibilidade é tão importante quanto a eleição. Sem isso, a sensação de caos se alastra, gera intranquilidade, a impaciência e a intolerância.
À parte das queixas, Dilma ainda tem contado com a condescendência: o empresariado, preocupado em não piorar o já bastante ruim, reclama, mas alivia. Mesmo o PMDB prefere jogar nos erros do governo. Do TCU, Dilma ganhou o tempo que pediu; do TSE, a procrastinação. Até a oposição, com seus erros, contribui pelo avesso - Lula e o PT são mais ácidos. A presidente dá chance ao azar; sua imperícia é que alimenta o perigo.
Não há o que possa ajudar sem que a presidente, antes, faça algo por de si própria. Seu maior inimigo está no governo: inabilidade, indecisão, omissões; a ambiguidade econômica; a cizânia que se espalha pelo Executivo, como metástase. Orçamentos com déficit, balões de ensaio de reformas e medidas inviáveis; corporativismo, cortes performáticos. CPMF que vem, vai e volta. A presidente precisa olhar para o espelho e ordenar: "Dilma, levanta-te e anda!"