BRASÍLIA - Citado na carta do vice-presidente, Michel Temer, encaminhada à presidente Dilma Rousseff, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) considera que o documento revela que o vice não tinha interesse no “fortalecimento da bancada”.
Na carta, Temer relata uma série de episódios que demonstrariam, nas palavras dele, a “absoluta desconfiança” que Dilma sempre teve em relação a ele e ao PMDB.
Num dos itens elencados pelo vice, ele faz menção ao processo da reforma ministerial realizado no último mês de outubro. No documento, Temer afirma ter sido “ignorado” nas tratativas e se queixa de Dilma o ter substituído nas negociações pelo líder Picciani e Jorge Picciani, pai do deputado.
“A carta esclarece muitos pontos. Vai ter uma repercussão forte dentro da bancada. Ficar claro que o Michel Temer não queria o fortalecimento da bancada. Ele ficou incomodado. Ele fala contra a presidente ter conversado comigo e ter indicado os dois deputados ministros. E em todo momento não defende a posição da bancada, mas dos seus aliados pessoais. Ele mesmo frisa que o Moreira Franco, o Eliseu Padilha e Edinho Araújo eram pessoas dele”, afirmou Picciani ao Estado.
Nas negociações feitas na reforma ministerial, o líder do PMDB conseguiu emplacar os deputados Marcelo Castro (PMDB-PI), como ministro da Saúde, e Celso Pansera (PMDB-RJ) como ministro da Ciência e Tecnologia. Na reforma, o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) perdeu o cargo da secretaria de Portos para Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA).
“Não fui eu quem fui procurar a presidente. Não fui eu que foi pedir nada. Ela ofereceu e eu apenas cumpri o papel de líder transmitindo à bancada os convites que foram feitos. E decidimos após consultar a maioria. Em momento nenhum eu pedi que substituíssem os aliados dele por membros da bancada”, ressaltou Picciani.
O líder do PMDB da Câmara também disse estranhar a queixa de Temer, que na carta endereçada a Dilma, diz ter sido um “vice decorativo” no primeiro mandato.
“Se ele se julgava um vice decorativo nos quatro primeiros anos, por que ele depois conduziu o partido, mesmo rachado, a permanecer na aliança? Se ele se sentia um vice decorativo por que continuar dessa forma (na chapa presidencial do PT)?, ponderou.
Jantar. Picciani afirmou que tomou conhecimento do conteúdo da carta apenas no final da noite de ontem após participar de jantar promovido pelo líder do PMDB na Senado, Eunício Oliveira (CE). No encontro também estiveram presentes os demais ministros do PMDB com exceção de Henrique Eduardo Alves (Turismo), ligado a Temer. Alves não estava em Brasília.
Na reunião foi discutida a manobra da oposição e de uma ala do PMDB ligada ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de lançar uma chapa concorrente para compor a Comissão Especial do impeachment. O objetivo é contrapor a indicações de líderes partidários da base que defendem nomes governistas para integrar o colegiado.
“Todos eles ontem tiveram uma posição muito firme afinada com o governo e de apoio à liderança. Há a compreensão de que a prerrogativa de indicar os membros cabe ao líder, sempre foi assim. É o que determina o regimento. Além disso, todo mundo ficou estarrecido com essa decisão estapafúrdia de chapa avulsa, é uma tentativa de embaralhar o processo”, considerou Picciani.
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