O senador Marcos do Val (Podemos-ES) expôs a lógica que opera no Senado: aliados do presidente da Casa Rodrigo Pacheco (PSD-MG) são agraciados com valores milionários do chamado orçamento secreto. O relato do político capixaba ao Estadão escancara que o Pacheco da vida real é bem diferente do que discursa em defesa do uso republicano dos recursos públicos.
Pacheco parece adotar a máxima de que a verba do Estado deve ser repartida segundo critérios de maior ou menor afinidade política. Talvez por isso, o presidente do Senado esteja agastado com o caso. Na quinta-feira, 7, ao ser procurado pelo Estadão para se manifestar, preferiu agir na sombra. Pediu explicações ao próprio Marcos do Val. E sobrou para o senador do Espírito Santo vir a público para tentar remendar o que dissera.
Primeiro, ele alegou que foi mal-interpretado. Em declarações públicas nesta sexta-feira, 8, buscou desvencilhar o nome de Pacheco e também do senador Davi Alcolumbre (União-AP) do uso do orçamento como moeda de retribuição por apoio político.
Até aqui não se está falando em caso de político botando dinheiro no bolso. Não foi isso que Marcos do Val contou. Seu relato serve, no entanto, para tornar ainda mais claro o modus operandi patrocinado por quem está no posto de comando.
A regra estabelecida no Congresso para repartição dos R$ 16 bilhões do orçamento secreto, aquela parcela das verbas públicas que não se sabem quem está patrocinando e cuja fiscalização é dificultada, é literalmente clientelista. No caso do Senado, ganhou novos contornos ao ser agregada a ela a “variável gratidão”. Na matemática de Pacheco, ela serve como multiplicador. E eleva o valor da cota que o senador terá direito de receber.
Na literatura, essa conduta já foi descrita como a regra do patrimonialismo em que o político conduz a coisa pública como se fosse um patrimônio privado seu.