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Ciro Gomes rompe com irmãos por causa do PT, diz que levou ‘facada nas costas’ e some do Ceará

Irmãos do ex-ministro, Cid e Ivo Gomes fazem acenos a Camilo Santana, candidato do PT ao Senado, e tentam reaproximação com partido de Lula

Foto do author Lauriberto Pompeu
Por Lauriberto Pompeu
Atualização:

BRASÍLIA – Pressionado a desistir de sua candidatura, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) não está em rota de colisão apenas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem acusa de fazer “jogo sujo” para retirá-lo do páreo. Nesta campanha, Ciro resolveu ignorar o Ceará, seu reduto eleitoral, após brigar com sua família.

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“Recebi uma facada poderosa nas costas. A traição é a cara do momento no Ceará. Resolvi não ir ao meu Estado pela primeira vez. Que o cearense diga lá o que quer fazer de mim”, disse o candidato do PDT em recente entrevista ao site O Antagonista.

Pesquisa Ipec divulgada na quinta-feira, 22, indica que Ciro tem 10% das intenções de voto no Ceará. Ocupa o terceiro lugar no Estado onde construiu sua trajetória política, atrás do presidente Jair Bolsonaro (PL), que está com 18%, e de Lula, com 63%.

Além disso, Roberto Cláudio, do PDT, que concorre a governador do Ceará com apoio de Ciro, corre o risco de ficar fora do segundo turno, que deve ser disputado entre Elmano de Freitas (PT), candidato de Lula, e Capitão Wagner (União Brasil), nome avalizado por Bolsonaro.

O rompimento de uma aliança de 16 anos entre o grupo de Ciro e o PT no Ceará dividiu a família Ferreira Gomes. Enquanto o candidato do PDT ao Palácio do Planalto ataca o PT, o senador Cid Gomes (PDT-CE) e o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT) – irmãos dele – evitam dar apoio a Roberto Cláudio e fazem campanha para o petista Camilo Santana ao Senado. Na tentativa de se reaproximar do PT, Cid afirmou que não vai declarar voto para governador.

“Eu vou me preservar nesse primeiro turno para tentar ser esse catalisador, o cupido da renovação dessa aliança”, disse o senador, no início do mês, ao pedir votos para Ciro e Camilo Santana, em Sobral.

O senador Cid Gomes evita dar apoio ao candidato ao governo do Ceará apadrinhado pelo irmão. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Boquinha

Adversários políticos de Ciro duvidam, no entanto, que haja um rompimento na família. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE) avalia o movimento como “jogo de cena” para garantir cargos, caso o PT ganhe o governo do Ceará.

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“É jogo de cena. Eles não brigam entre eles, não. Eles querem uma boquinha porque perderam o Brasil. O Ciro destruiu tudo, ninguém pode ser ministro de um e nem de outro”, afirmou Eunício ao Estadão, numa referência a Lula e a Bolsonaro. “No Brasil e no Ceará, Ciro morreu. O candidato dele não vai nem para o segundo turno. Ele perde para o Bolsonaro feio no Ceará, infelizmente. Então, vai tentar uma boquinha no governo do Elmano via Cid e via Camilo”, emendou.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse ao Estadão que Cid tem evitado seus contatos. “Não falo com ele há um bom tempo. Ele se licenciou do Senado. Logo no comecinho (do período eleitoral), liguei para ele e não respondeu. Não voltei a falar”.

Ao contrário do que ocorreu em outras campanhas, Cid está recluso e não participou nem mesmo da convenção do PDT que lançou a candidatura do irmão à sucessão de Bolsonaro. O comportamento contrasta com a disputa de 2018, quando Cid era o coordenador da campanha de Ciro, comparecia aos eventos e dava entrevistas sobre a candidatura dele.

Lupi afirmou que, nos próximos dias, fará campanha para Roberto Cláudio, o candidato do PDT no Ceará. Ciro, porém, estará ausente. “Com esse negócio da questão familiar, ele vai só votar lá. Acho que ele não vai fazer nenhuma programação de rua, mas ainda não está fechado”.

Divórcio

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Mesmo com as crescentes críticas de Ciro a Lula desde a eleição de 2018, o grupo do ex-ministro continuava aliado do PT no Ceará. O divórcio litigioso ocorreu com a insistência de Ciro em escolher o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio para ser candidato a governador do Ceará. Cláudio tem um histórico de enfrentamento com o PT.

Os petistas queriam lançar a atual governadora, Izolda Cela, que assumiu o cargo em abril, após Camilo Santana renunciar para ser candidato ao Senado. Depois de ser preterida, Izolda se desfiliou do PDT e hoje está sem partido.

Cid e Ivo Gomes, os irmãos de Ciro, já manifestaram publicamente apoio a Izolda e disseram que a aliança com o PT não deveria ter sido desfeita. Os dois têm pedido voto para Camilo. Ciro, por sua vez, não poupa críticas ao ex-governador e já disse que tudo “desandou” porque Lula, certo da vitória, convidou Camilo para ser ministro.

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“O nosso povo não tem culpa da vaidade e da prepotência de lideranças que, uma vez construídas nessa luta e ao redor desse projeto, agora servem por uma ninharia, por um punhado de nada ou um carguinho de ministro, e desertam da humildade e da luta do povo”, atacou o ex-ministro, na ocasião. Camilo não respondeu.

Ciro fez um pronunciamento, nesta segunda-feira, 26, no qual diz que “nada deterá” sua disposição de seguir em frente. “Por mais jogo sujo que pratiquem, eles não me intimidarão”, destacou o candidato do PDT, ao divulgar um “Manifesto à Nação” após pressão de artistas e políticos aliados a Lula para que ele abra mão de sua candidatura. O ex-ministro chamou de “rito suicida” um possível segundo turno entre o petista e Bolsonaro.

No mesmo horário, o cantor Caetano Veloso, que já apoiou Ciro nas últimas eleições presidenciais, divulgou um vídeo nas redes sociais para ampliar a campanha pelo voto útil em Lula. Sob o slogan #tiragomes, o cantor repetiu uma frase do ex-governador do Rio Leonel Brizola, um dos fundadores do PDT. Brizola dizia que “artista não dá voto, mas tira. Então...”

Nesta última semana de campanha, antes do primeiro turno, Ciro focará seus compromissos em São Paulo e no Rio. Ele ainda avalia se irá para o Ceará na véspera da eleição ou apenas no dia de votar.