Em delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, para mudar um relatório em que o Exército não identificou falhas nas urnas eletrônicas. O sigilo da colaboração foi derrubado nesta quarta-feira, 19, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um dia após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Bolsonaro e mais 33 no inquérito do golpe.
Em depoimento ao STF em novembro de 2024, Cid afirmou: “O general Paulo Sérgio, a conclusão dele ia ser isso (ausência de falhas nas urnas). Aí, o presidente tava pressionando para que ele escrevesse isso de outra forma, né? O presidente queria que ele escrevesse que tivesse fraude. O que acabou saindo, eu acho, foi que não se poderia comprovar porque não era possível auditar”.

Cid concordou ao ser questionado por Moraes se o general “foi proibido de mostrar o laudo que não tinha nenhum problema”. O ministro do STF também afirmou que o então ministro da Defesa cancelou uma reunião com ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de última hora. No encontro, os dois discutiriam a conclusão da comissão do Exército que participou da fiscalização da eleição de 2022.
“A comissão do Exército fez o laudo constatando que não havia nenhum problema, tanto que o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, pediu e marcou uma reunião comigo, como presidente do TSE, para terça-feira. E terça de manhã, ele ligou pedindo desculpas e desmarcando a reunião, porque o presidente tinha chamado. E aí foi mais um mês”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que na época presidia o TSE.
Na denúncia enviada ao STF na terça-feira, 18, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apontou que o general Paulo Sérgio Nogueira teve atuação “indiscutível” no movimento golpista. Antes de ser ministro da Defesa, Nogueira foi comandante do Exército no governo Bolsonaro.
“Um ministro da Defesa não convoca comandantes das 3 Armas ao seu gabinete e lhes apresenta um projeto de decreto do tipo em apreço senão por um de dois motivos — para concitá-los a medidas drásticas contra o presidente da República proponente da quebra da normalidade constitucional ou para se expor favoravelmente à adesão ao golpe. A segunda hipótese foi a que se confirmou”, escreveu Gonet.