O Ministério Público do Paraná (MP-PR) afirmou à Justiça que um ex-promotor do órgão advogou por dez anos enquanto atuava na Procuradoria e recebeu R$ 5 milhões indevidamente em salários do Estado. De acordo com a investigação, enquanto era promotor, em São Miguel do Iguaçu (PR), Haroldo Nogiri advogava em processos criminais e de improbidade administrativa, áreas sensíveis e com atuação do MP.
O MP-PR apresentou o processo contra Nogiri à Justiça, por improbidade administrativa com enriquecimento ilícito, no último dia cinco de fevereiro. Na peça, também solicita que o ex-promotor repare o prejuízo ao Ministério Público e à sociedade de São Miguel do Iguaçu e Itaipulândia, cidades abrangidas pela comarca onde ele atuava. Procurado pela Coluna do Estadão, o ex-promotor Haroldo Nogiri não respondeu. O espaço segue aberto.
O documento detalha que Nogiri foi promotor entre 2011 e 2021. No mesmo período, advogou “intensamente” “às ocultas”, o que é vedado pela Constituição, e frequentou o escritório de advocacia em que trabalhou. De acordo com o inquérito enviado à Justiça estadual, Haroldo Nogiri só pediu exoneração do Ministério Público dois dias depois de ter sido alvo de um mandado de busca e apreensão na investigação do caso, em 2021.
Para o MP, o caso manchou permanentemente a imagem do próprio Ministério Público e do Poder Judiciário.
“As condutas ilícitas de Haroldo Nogiri macularam de forma indelével a imagem do Ministério Público, colocando-o como uma instituição vulnerável à desconfiança pública na Comarca. Fomenta a percepção de que o Poder Judiciário pode ser instrumentalizado para a prática de atos ilegais”.

“Durante muitos anos, São Miguel do Iguaçu (PR) vivenciou a constrangedora e inusitada situação de contar com promotores de Justiça atuando, de um lado, no âmbito de suas atribuições regulares, conduzindo investigações, ajuizando ações penais e de improbidade administrativa, e, de outro lado, um também promotor de Justiça orquestrando e fazendo a defesa dos investigados e réus, em parceria com advogados, e recebendo, mensalmente, subsídios do Ministério Público do Paraná”, ressaltou o MP-PR.