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Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

Glauber Braga avalia sair do PSOL e ataca demissão de economista que criticava governo Lula

Racha no PSOL ficou mais explícito esta semana após demissão de economista crítico à política econômica do governo Lula

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Foto do author Eduardo Barretto
Atualização:

O deputado Glauber Braga (RJ) afirmou nesta sexta-feira, 7, que avalia deixar o PSOL em meio a um racha na bancada da Câmara sobre o posicionamento que a legenda deve adotar em relação ao governo Lula. A divisão ficou mais explícita nos últimos dias com a demissão do economista David Deccache da liderança da bancada, que alega ter sido exonerado por criticar a política econômica da atual gestão. Deputados do partido negam essa motivação. O PSOL disse que não interfere nas decisões da bancada.

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“O que aconteceu com o David não é um fato isolado, vem se arrastando há algum tempo, eu diria há anos, mas tem um grau de gravidade superior, que representa uma virada de chave por parte do campo majoritário do PSOL. Eu questionei na reunião: ‘Qual é a diferença daquilo que foi realizado pelo David do que eu também realizo como parlamentar?’, disse Braga em uma live, acrescentando: “O que fazer? Esgotou-se o tempo de presença no PSOL ou não? Esse diálogo agora é o que eu tomo a liberdade de fazer”.

Se Glauber Braga deixar o partido, corre o risco de perder a vaga na Câmara, uma vez que o mandato pertence ao PSOL. A exceção seria se o Tribunal Superior Eleitoral considerasse que a sigla cometeu “desvio do programa partidário” ou “grave discriminação pessoal” contra Braga.

Em entrevista à Coluna do Estadão na quinta-feira, 6, Deccache disse que foi exonerado por criticar a política econômica da gestão petista, afirmou ter sofrido assédio moral e avaliou que o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), da ala majoritária da sigla, manda na legenda “de forma autoritária”. Procurado, Boulos não comentou.

Deccache foi demitido na quarta-feira, 5, em uma votação dos 13 deputados da bancada, por oito votos a cinco. O placar delimita exatamente as duas alas do partido em relação ao governo Lula. Na ocasião, também foi definida a divisão do poder na bancada. A ala majoritária rejeitou adotar o critério de proporcionalidade nos revezamentos dos líderes.

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Deputado Glauber Braga PSOL-RJ  

Venceram a disputa os deputados: Guilherme Boulos, Erika Hilton, Luciene Cavalcante, Ivan Valente, Henrique Vieira, Talíria Petrone, Tarcísio Motta e Célia Xakriabá. O grupo que perdeu a votação tinha Glauber Rocha, Sâmia Bomfim, Fernanda Melchionna, Luiza Erundina e Chico Alencar.

Glauber Braga afirmou que a votação interna da bancada teve discussões duras. Segundo o deputado, a colega Fernanda Melchionna afirmou que a ala majoritária da sigla tentava expulsar a minoria. “Eu disse que tudo tinha limite”, disse Braga, concordando com Melchionna na reunião.

Após a reunião, a ala majoritária do PSOL divulgou um documento alegando que a demissão do assessor foi causada por “ataques públicos” do economista a parlamentares, o que Deccache nega. Além da exoneração em si, a ala deixou clara sua posição no debate sobre a posição em relação ao governo Lula:

“A questão de fundo da polêmica que um grupo do partido quer criar, fazendo debate interno de maneira pública e desrespeitosa, é a tentativa de jogar o PSOL na oposição ao governo Lula. Nossa leitura é de que o foco deve ser o enfrentamento ao bolsonarismo”, afirmaram os oito parlamentares, acrescentando que 67% da convenção partidária decidiu que o partido integraria a base da gestão petista para ajudar na “derrota da extrema direita”.

Ao fim da carta, o grupo majoritário dos deputados do PSOL deixou ainda um recado aos adversários internos:

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“É um erro grave que parte da esquerda não compreenda os riscos do avanço da extrema direita e tenha seu horizonte limitado a disputas internas. Essa não é e nem será a posição do PSOL”.

Procurada, a liderança do PSOL na Câmara afirmou: “A líder do PSOL, deputada Talíria Petrone, não dará declarações públicas sobre o tema, que é assunto interno do partido e da bancada”. O diretório nacional da sigla declarou: “A liderança da bancada na Câmara tem autonomia para definir seus assessores e não cabe à direção partidária interferir nestas decisões de contratações ou desligamento de pessoal, que são atos meramente burocráticos”. Boulos não comentou.