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Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

Governo não faz dever de casa e quer culpar agronegócio pela inflação, critica Tereza Cristina

Parlamentares que representam o setor no Congresso ressaltam não haver desabastecimento de alimentos e consideram anúncio para aumentar importação ineficiente

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Foto do author Roseann Kennedy
Atualização:

Medida desnecessária, ineficiente, desvio de foco, decisão de aloprados. Essas são algumas das expressões usadas pela bancada do agronegócio no Congresso ao avaliar o anúncio nesta sexta-feira, 24, de que o governo Lula atuará na redução da alíquota de importação de alimentos para tentar diminuir o preço dos produtos no Brasil. A medida não traz nenhuma garantia de queda da inflação e, por ora, o presidente Lula apenas comprou mais uma briga com congressistas da maior frente parlamentar da Câmara e do Senado.

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“Não vejo motivos para importação de alimentos. O governo mais uma vez não faz o dever de casa de cortar gastos, cria desconfiança que gera aumento de inflação, de juros e do dólar. É isso que está aumentando os preços; não há nenhum desequilíbrio no agronegócio brasileiro. Será que o governo está procurando jogar a culpa para o setor? Não vai colar”, afirmou à Coluna do Estadão a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (PP-MS). Ela é coordenadora política no Senado da FPA - Frente Parlamentar da Agropecuária.

Ao anunciar a medida, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, informou que o governo vai focar em produtos que estiverem mais caros no mercado interno em relação ao mercado internacional. O vice-presidente da FPA na Câmara, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), rebateu. Disse que os preços estão em paridade com o mercado internacional e lembrou que as commodities têm por base o dólar.

“Medidas eficazes para o controle inflacionário seriam as que impeçam alta cambial e que diminuam custos do setor”, complementou Jardim. Ele também rechaçou críticas de que o agro brasileiro estaria com produtos com valor mais elevado porque estaria priorizando as exportações. “Dados do IBGE mostram que há 20 anos alimentação representava 40% dos gastos das famílias. Hoje representa 20%. Exportar dá escala de produção e ajuda a baratear o preço. Além disso, veja o exemplo da carne. Mais de 70% da produção fica no consumo nacional”, ressaltou.

Apelar para ampliar as importações só faria sentido se houvesse problema de desabastecimento de algum produto, ressaltam parlamentares que representam o setor. “É uma decisão de irresponsáveis. Hoje não temos nenhum problema de oferta. Temos alimentos em abundância no Brasil e somos inclusive um dos maiores exportadores do mundo. A inflação existente está associada a outros fatores e não a baixa oferta de produtos”, concluiu o deputado Domingos Sávio (PL-MG).

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A senadora Tereza Cristina complementa: “Mexer nas alíquotas de importação via Camex é algo racional, que se faz com parcimônia para regular o mercado, quando há pouca oferta ou alta excessiva de gêneros básicos. Mas é algo pontual. A expectativa para esse ano é de uma safra mais abundante do que a do ano passado, quando os rigores climáticos atingiram as colheitas - mas mesmo assim obtivemos bons resultados no campo”.

Já sobre o anúncio feito pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, de que o presidente Lula determinou que o governo já comece a discutir um novo Plano Safra que estimule mais a produção de alimentos, a reação foi positiva. “Plano Safra, para os produtores rurais, sobretudo pequenos e médios que dependem da subvenção, o anúncio de mais recursos é sempre bem-vindo, sobretudo numa conjuntura em que o crédito é inibido pelos juros altos - em decorrência da mencionada falta de um eficiente ajuste fiscal por parte do governo”, finalizou a ex-ministra da Agricultura.

Tereza Cristina vai liderar Instituto Campos, que reúne políticos e empresários da direita e da centro-direita Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado