Quadros poderosos do PT têm cobrado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a efetivar a troca na presidência da Caixa, acertada com o Centrão na reforma ministerial. Em conversas reservadas, o entorno do presidente insiste junto a ele de que é preciso cumprir o acordo o quanto antes, como forma de destravar a pauta econômica no Congresso. É consenso que o o substituto de Rita Serrano no banco público será indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Novos nomes têm circulado para assumir a Caixa, como o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Bezerra Rodrigues Costa, e o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, ex-presidente do fundo de pensão dos funcionários do banco público, o Funcef. Na corrida de bastidores, os dois já desbancaram candidatos fortes, como a ex-deputada federal Margarete Coelho (PP-PI) e do ex-dirigente do banco Gilberto Occhi.
Vieira Fernandes também já foi secretário-executivo de Occhi no Ministério do Desenvolvimento Regional na gestão Dilma Rousseff. Os dois entregaram os cargos após o PP votar a favor do processo de impeachment, em 2016. O provável futuro presidente da Caixa também foi diretor-presidente da BRB Financeira por indicação do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Seja como for, a tendência é que a presidente da Caixa seja substituída por um homem, ampliando o enxugamento da representatividade feminina no governo, inaugurado com a troca no Ministério do Turismo, de Daniela Carneiro por Celso Sabino, e continuado com a substituição de Ana Moser por André Fufuca na pasta do Esporte.
O destino das 12 vice-presidências da Caixa ainda está em aberto. O PP quer o banco de porteira fechada, ou seja, com o poder de indicar todos os cargos. Mas o PT não abre mão, ao menos até o momento, da vice-presidente de Habitação, Inês Magalhães, responsável pelo Minha Casa, Minha Vida. Como revelou a Coluna, Lula chegou a ser alertado sobre os riscos de entregar o programa ao Centrão, inclusive para a relação com o ministro Jader Filho, do MDB.
A esticada de corda promovida por Lula nas negociações da Caixa irritou o Centrão e assustou a articulação política do governo, que precisa aprovar a Medida Provisória (MP) da subvenção do ICMS e a taxação de offshores e fundos exclusivos para ampliar a arrecadação. Os projetos são considerados essenciais para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cumprir a meta de déficit fiscal zero no ano que vem, objetivo visto com ceticismo pelo mercado financeiro e até por técnicos do Ministério do Planejamento.
Como mostrou a Coluna do Estadão, a resistência de Lula em confirmar a entrega da Caixa ao Centrão — a ponto de afirmar que não faria nenhuma mudança agora — levou Lira a anunciar obstrução dos trabalhos na Câmara. Recuou no final do dia para aprovar um projeto de interesse do agronegócio, mas fez a sua demonstração de força.
Na terça-feira (29), Haddad, inclusive, almoçou com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) para discutir o andamento da pauta econômica no Congresso. Também participaram os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).