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Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

Motta e relator acertam levar urgência do Projeto da Reciprocidade ao plenário hoje

Ideia é manter o texto já aprovado no Senado; o PL da Reciprocidade permite que o Brasil responda ao “tarifaço” de Donald Trump

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Foto do author Roseann Kennedy
Atualização:

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), reuniu-se na manhã desta quarta-feira, 2, com o relator do PL da Reciprocidade, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP). A conclusão da conversa foi de que o projeto necessita de urgência, e decisão foi por levar a matéria à pauta do plenário ainda hoje.

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Ficou acordado que o relator não fará mudanças no texto que foi aprovado no Senado, ontem. Primeiro os deputados votarão a urgência do PL e na sequência o próprio projeto. O projeto de lei permite que o Brasil responda ao “tarifaço” a ser anunciado pelo governo dos Estados Unidos.

“A Câmara votar esse projeto é demonstrar que o Brasil estará unido na defesa de seus interesses. Nossa intenção não é usar esse instrumento. Mas, tê-lo, é antes de tudo um guarda-chuva de proteção”, afirmou Arnaldo Jardim à Coluna do Estadão.

Discussão e votação de propostas. Dep. Arnaldo Jardim (CIDADANIA-SP) 11/09/2024 - Plenário - Sessão Deliberativa Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

“O Brasil precisa adotar uma postura de simetria e respeito nas relações comerciais internacionais. O projeto garante ferramentas legais para que o país reaja com equilíbrio, mas com firmeza, a qualquer tipo de barreira injustificada que comprometa nossa competitividade”, continua Jardim.

Na terça-feira, por unanimidade, o Senado aprovou o PL da Reciprocidade na Comissão de Assuntos Econômicos, em caráter terminativo. Ou seja, podendo ir diretamente para a Câmara.

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Apesar de os bolsonaristas em campanha pelo projeto de anistia aos condenados do 8 de janeiro estarem obstruindo a pauta, a aposta na cúpula da Câmara é de que o Projeto da Reciprocidade será votado, porque governistas e opositores estão unidos em favor da pauta.

Além disso, o governo americano planeja lançar hoje um conjunto de tarifas aos produtos estrangeiros. O presidente Donald Trump disse que será o “Dia da Libertação”, para libertar os Estados Unidos de produtos de outros países

O PL da Reciprocidade aprovado no Senado e agora aguardando deliberação na Câmara permite que governo brasileiro possa aplicar contramedidas quando seus produtos sofrerem retaliações desmedidas de outros países.

Pelo texto, a lei pode ser aplicada se um país ou bloco econômico adotar ações que representem:

  • Interferência nas escolhas legítimas e soberanas do Brasil, ou seja, medidas que procurem impedir ou obter a cessação, modificação ou adoção de um ato específico ou de práticas no Brasil, por meio da aplicação ou da ameaça de aplicação unilateral de medidas comerciais, financeiras ou de investimentos;
  • Violação ou inconsistência com as disposições de acordos comerciais, ou, de outra forma, neguem, anulem ou prejudiquem benefícios ao Brasil sob qualquer acordo comercial;
  • Medidas unilaterais com base em requisitos ambientais que sejam mais onerosos do que os parâmetros, normas e padrões de proteção ambiental adotados pelo Brasil. Neste item, são considerados como parâmetros o Acordo de Paris, o Código Florestal Brasileiro, a Política Nacional de Mudança Climática, a Política Nacional de Meio Ambiente e os atributos específicos do sistema produtivo brasileiro, tais como a elevada taxa de energia renovável nas matrizes elétrica e energética, ou ainda particularidades e diferenciais ambientais brasileiros.

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Com a proposta, o Executivo fica autorizado a adotar, isolada ou cumulativamente, as seguintes medidas:

  • Imposição de direito de natureza comercial incidente sobre importações de bens ou de serviços do País ou bloco econômico avaliado;
  • Suspensão de concessões ou de outras obrigações do País relativas a direitos de propriedade intelectual;
  • Outras medidas de suspensão de concessões ou de outras obrigações do País em quaisquer acordos comerciais de que o Brasil faça parte.

“Nós devemos ter um pacotaço tarifário dos Estados Unidos, que vêm fazendo isso não só com o Brasil, mas com outros países. Aí, então, o governo brasileiro tem ferramentas para contrapor quando essas medidas forem desarrazoadas contra o nosso mercado”, disse relatora do projeto no Senado, Tereza Cristina, quando a matéria foi aprovada.