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Polícia do Senado e PM contradizem ministro da Defesa sobre armas no 8/1

Em entrevista, José Múcio disse que não havia ninguém armado no 8 de Janeiro, mas, segundo Polícia do Senado e PM, grupo tinha coquetéis molotov, facas, granadas e fogos de artifício; ministro não comenta

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Foto do author Eduardo Barretto

Documentos da Polícia Legislativa do Senado e depoimentos de policiais militares que atuaram no 8 de Janeiro contradizem o ministro da Defesa, José Múcio, que na segunda-feira (10/2) disse que não havia ninguém armado quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas nos atos golpistas. Procurado por meio da assessoria, Múcio não comentou.

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“Não havia um chefe, não havia ninguém armado, alguém que você pudesse se entender, alguém que você pudesse dialogar. Não vi uma arma. Sou capaz de dizer que quem organizou aquilo não foi, desistiu, não apareceu e ficou aquele quebra-quebra todo”, afirmou o ministro da Defesa em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura.

Apesar de não citar armas de fogo, a Polícia Legislativa do Senado identificou diversos armamentos perigosos com os manifestantes que depredaram a Casa: granadas lacrimogêneas usadas pelo Exército, “artefatos explosivos (fogos de artifício), armas brancas (facas, machadinha e canivetes), barras de ferro, estilingue com chumbadas (peso de chumbo para pesca), bolas de gude etc”, afirmou um relatório encaminhado pelo órgão à CPMI do 8 de Janeiro.

Ainda segundo o documento, os golpistas usaram itens do próprio Congresso para se armarem, como extintores de incêndio, pedaços pontiagudos de metal e mangueiras de incêndio, cuja água foi usada contra policiais. Esses fatores levaram a CPMI a concluir que havia manifestantes com “treinamento especializado militar”.

MUCIO BRASÍLIA DF JOSÉ MÚCIO MONTEIRO /TSE/PACHECO NACIONAL OE - O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, durante a solenidade de entrega de comenda da Ordem do Mérito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – Assis Brasil ao Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, Senador Rodrigo Pacheco, realizada na noite desta terça-feira (07), na sede do tribunal em Brasília-DF. FOTO: WILTON JUNIOR / ESTADÃO Foto: Wilton Junior/Estadão 09/03/2023

Dois depoimentos de policiais militares à CPMI reforçam o relatório do Senado. Os manifestantes “tinham coquetel molotov, pedras, paus, barras de ferro, eles usavam estilingues com bolas de ferro”, afirmou o segundo tenente Marco Aurélio Teixeira, acrescentando: “Alguns dos manifestantes portavam máscaras, capacetes, proteções de canela e braço e equipamento de combate similar ao utilizado por forças de segurança”.

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A cabo da Polícia Militar Marcela da Silva, agredida na cabeça com uma barra de ferro pelos golpistas, afirmou: “Os manifestantes usavam qualquer material à disposição, incluindo estacas das bandeiras, gradis de ferro e pedras portuguesas da Praça dos Três Poderes, além de coquetéis molotov”. Para a cabo, os manifestantes estavam “dispostos a tudo, inclusive a atentar contra a vida dos policiais”.

Procurado pela Coluna do Estadão por meio da assessoria do ministério, José Múcio não comentou.