Coronel da reserva diz que atos são de ‘infiltrados de esquerda’ e é desmentida ao vivo; veja vídeo

Tenente-coronel Regina Benini afirma que vandalismo teria sido cometido por infiltrados - e é desmentida por apoiador de Bolsonaro que reconhece envolvimento de grupo insatisfeito com prisão de indígena

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Foto do author Felipe Frazão
Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Uma oficial da reserva do Exército Brasileiro foi aos atos que vandalizaram parte da região central de Brasília nesta segunda-feira, dia 12, à noite. A tenente-coronel Regina Benini Moézia de Lima publicou imagens dela mesma acompanhando a situação presencialmente. Em transmissões ao vivo, ela coleta artefatos como cápsulas de bombas de gás e reproduz desinformação.

Nos vídeos divulgados nas redes sociais, a tenente-coronel Regina Benini não aparece diretamente envolvida em atos de depredação, mas circula entre manifestantes e tenta disseminar uma narrativa de que os crimes teriam sido praticados por “infiltrados de esquerda”. Ela própria, porém, é logo desmentida por outros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

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“O pessoal manifestante, os bolsonaristas mesmos, o pessoal que está acampado não bota fogo em nada”, afirmou a tenente-coronel no vídeo acima. “Isso foi um ato terrorista, não pensem que foi obra do pessoal que estava no QG, não. Precisou chegar nesse limite, o povo não aguenta mais, mas foram infiltrados, tenho certeza.”

A oficial afirma erroneamente, por exemplo, que o indígena José Acácio Serere Xavante “não foi preso pela Polícia Federal, mas foi sequestrado”. “Foi tudo armado”, disse ela. Na verdade, ele foi preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República, acusado de envolvimento em atos antidemocráticos anteriores.

Outra manifestante entrevistada por Regina num segundo vídeo, porém, a desmente frontalmente: “Eles são nossos, são legítimos, não são infiltrados. Junto com os índios, queremos a liberação do cacique Serere”, diz a mulher. A conversa acontece a partir dos 11min20s no vídeo que ela divulgou no Instagram. Veja abaixo:

“É tudo fake news isso, onde a senhora estava? Por favor...”, respondeu a mulher indagada pela militar. “Segundo essa moça, esse ataque terrorista, que pra mim é ataque terrorista, teria partido das próprias pessoas que estavam com os indígenas. Está difícil saber a informação correta. Seja de quem partiu essa ação, eu sou contra esse tipo de atitude, totalmente contra.” O Estadão mandou mensagem para a tenente-coronel, mas não recebeu resposta.

Regina diz que foi ao local para “cobrir” os atos e que está “do lado da ordem”. A oficial é um dos rostos frequentes no acampamento à frente do Quartel-General do Exército em Brasília e contesta a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Ela chegou a se deslocar pelo setor hoteleiro de Brasília e se aproximou do hotel onde Lula está hospedado. Disse que somente a Polícia Militar fazia operação de reforço de segurança do petista e de repressão aos crimes - e não as Forças Armadas: “Aconteceu uma quebra da ordem no País, a quebra da lei a gente sabe que aconteceu há muito tempo. Estamos esperando o tal decreto presidencial, que não aconteceu ainda”.

Questionada por um homem sobre militares vendidos e de esquerda, ela respondeu que não era uma “infiltrada”: “Não é meu caso”. Regina diz que que vai levar para uma irmã que é policial civil recuperar impressões digitais e para as autoridades militares em que confia, às quais é subordinada.

Regina Benini foi candidata a deputada distrital em 2018 e 2022 na base de partidos aliada ao presidente Jair Bolsonaro. Ela é atualmente filiada ao Republicanos e teve a campanha financiada majoritariamente pelo partido da senadora eleita e ex-ministra Damares Alves (DF), com quem gravou vídeos. Regina divulgou imagens de apoio a sua campanha do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas.

Os atos de vandalismo começaram em frente à Polícia Federal, na Asa Norte, por volta de 19h30, após o cumprimento de um mandado de prisão temporária contra o indígena José Acácio Serere Xavante, apoiador de Bolsonaro. A prisão ocorreu por determinação do ministro Alexandre de Moraes e atende a um pedido da Procuradoria-Geral da República por participar de atos antidemocráticos e reunir pessoas para cometer crimes. Em nota, a PF afirmou que o preso está acompanhado de advogados e que as formalidades relativas à prisão “estão sendo adotadas nos termos da lei”.

Sem outras prisões

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A Secretaria de Segurança Pública do DF afirmou que precisou restringir o trânsito na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Três Poderes e em outras vias da região central. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), disse que deu ordem para prender todos os autores de atos de violência, mas, até o momento nenhuma prisão foi divulgada. Em nota, a secretaria disse que “não foram constatadas prisões relacionadas aos distúrbios civis ocorridos” e que, “para redução dos danos e para evitar uma escalada ainda maior dos ânimos, a ação da Polícia Militar se concentrou na dispersão dos manifestantes”.

A pasta afirmou ainda que o policiamento na área central da cidade e nas proximidades do hotel onde Lula está hospedado foi reforçado e que “toda área central da capital segue monitorada pela segurança pública, com apoio de câmeras de videomonitoramento e do serviço de inteligência”.

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