Crise entre Procuradoria e PF suspende investigação de políticos na Lava Jato
Ministério Público e policiais federais disputam protagonismo na condução dos inquéritos que envolvem parlamentares; Supremo determina interromper a realização de depoimentos até que os desentendimentos internos sejam superados
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Texto atualizado às 07h54 do dia 17/04/2015
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BRASÍLIA - A disputa por protagonismo entre policiais federais e procuradores da República na Operação Lava Jato paralisou indefinidamente parte das investigações relativa às suspeitas de envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobrás. A divergência levou o Supremo Tribunal Federal a determinar, a pedido do Ministério Público Federal, a suspensão de diligências a serem cumpridas em inquéritos que abrangem, entre outros, os presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB, o que deve atrasar as investigações envolvendo políticos.
Os desentendimentos entre policiais e procuradores surgiram desde a abertura dos inquéritos a partir de autorização do Supremo, em março. A queda de braço se intensificou nesta semana. Isso porque procuradores telefonaram para parlamentares informando que os investigados não precisariam, necessariamente, depor na sede da Polícia Federal em Brasília. Poderiam optar por realizar a oitiva, por exemplo, na sede da Procuradoria-Geral da República.
A iniciativa de procurar diretamente os investigados incomodou integrantes da PF, o que levou a uma troca de telefonemas entre o diretor-geral do órgão, Leandro Daiello, e o procurador-geral Rodrigo Janot. O primeiro contato partiu do procurador, que teria relatado ao chefe da PF que políticos investigados pediram à sua equipe para serem ouvidos na procuradoria da República e não na sede da PF. Ou seja, sem a presença de policiais.
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Em resposta, Janot ouviu que a polícia estava cumprindo uma decisão do STF e que qualquer alteração deveria ocorrer mediante consulta do procurador à Corte. Ocorre que ao averiguar por que razão os investigados não queriam mais depor para os delegados, a PF descobriu que era a PGR quem estava orientando os alvos, o que aprofundou a crise. Coube ao ministro José Eduardo Cardozo, titular da Justiça, a quem a PF é subordinada, tentar buscar o consenso. Ontem à noite, Cardozo conversou com Janot e Daiello separadamente. Após esse telefonema, a PF desistiu de divulgar nota a respeito da crise.
Presos da Operação Lava Jato
1 / 22Presos da Operação Lava Jato
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O engenheiro eex-diretor de Serviços da Petrobrás entre 2003 e 2012, diretoria ligada ao PT Foto: André Dusek/Estadão
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Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor internacional da OAS. Foi denunciado e preso.Reunidas em cartel, as empreiteiras combinavam previamente pr... Foto: DivulgaçãoMais
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Presidente da UTC, foi denunciado e preso. Ricardo Pessoa é apontado como o líder do cartel. Para a defesa do executivo,a acusação do Ministério Públi... Foto: Marcos Bezerra/Futura PressMais
José Ricardo Nogueira Breghirolli
Funcionário da OAS. Ele fazia pagamentos a políticos e autorizava remessas fraudulentas em nome da OAS para oexterior.A defesa do funcionário nega irr... Foto: DivulgaçãoMais
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Apontado pela PF como principal operador do esquema de corrupção e desvios na Petrobrás, Yousseffez acordo de delação premiada em troca de redução de ... Foto: JOEDSON ALVES/ESTADÃOMais
Nestor Cerveró
Além deste episódio, Baiano também afirmou ter se reunido com Bumlai e outros executivos da estatal no Rio para acertar o repasse de US$ 5 milhões par... Foto: André Dusek/EstadãoMais
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O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrásfoi condenado a 74 anos, seis meses e dez dias de prisão, por corrupção e lavagem de dinheiro.No entanto, co... Foto: Dida Sampaio/EstadãoMais
Pedro Corrêa (PP-PE)
O ex-deputado Pedro Corrêa, preso na Lava Jato e no mensalão Foto: CELSO JUNIOR/AE
André Vargas (sem partido)
Ex-petista é investigado por crimes que vão além da Petrobrás e envolvem atécontratos de publicidade da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saú... Foto: ALBARI ROSA/AGPMais
Luiz Argôlo (SD-BA)
É suspeito de receber ao menos R$ 1,2 milhão do doleiro Alberto Youssef e, segundo as investigações da Polícia Federal, ter se tornado sócio dele na e... Foto: DIVULGACAOMais
Dário de Queiroz Galvão Filho: 23 anos
O diretor-presidente da Galvão Engenharia foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 23 anos de prisão, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação c... Foto: DivulgaçãoMais
Mateus Coutinho de Sá Oliveira
Vice-presidente do conselho da OAS, Mateus Coutinho foi denunciado e preso. A defesa do executivo nega irregularidades e afirma que ele está "preso pr... Foto: Paulo Lisboa/EstadãoMais
José Aldemário Pinheiro Filho
Presidente da OAS, ele foi denunciado e preso.Reunidas em cartel, as empreiteiras combinavam previamente preços de obras da Petrobrás. Com isso, os co... Foto: Dida Sampaio/EstadãoMais
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Doleira condenada a 18 anos de prisão por envolvimento com o esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas desmantelado pela Operação Lava Jato. ... Foto: ReproduçãoMais
Sérgio Cunha Mendes
Vice-presidente executivo da Mendes Júnior. Denunciado e preso.Reunidas em cartel, as empreiteiras combinavam previamente preços de obras da Petrobrás... Foto: ReproduçãoMais
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Gerson de Mello Almada
Vice-presidente da Engevix, ele foi denunciado e preso. Reunidas em cartel, as empreiteiras combinavam previamente preços de obras da Petrobrás. Com i... Foto: Carol Carquejeiro/ValorMais
João Ricardo Auler: 9 anos e 6 meses
Presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa, atuava com outras empresas combinando previamente os preços de obras da Petrobrás. O cartal... Foto: ReproduçãoMais
Eduardo Hermelino Leite
Vice-presidente da Camargo Corrêa. Foi preso, mas cumpre prisão em regime domiciliar, depois de firmar acordo de delação premiada.Reunidas em cartel, ... Foto: DivulgaçãoMais
Erton Medeiros Fonseca: 12 anos e 5 meses
Diretor-presidenteda Divisão de Engenharia Industrialda Galvão Engenharia foi condenado a 12 anos e 5 meses de prisão em dezembro de 2015, por corrupç... Foto: Polícia Federal/DivulgaçãoMais
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Num outro ponto de desentendimento, a polícia teria pedido ao STF novas diligências a partir dos documentos analisados sem consultar previamente a procuradoria. Para os policiais, o estresse quanto a isso foi causado porque a procuradoria quer limitar as investigações e não teria como justificar a negativa de um pedido para avançar no inquérito. Já para os procuradores, a PF tomou a dianteira de forma indevida uma vez que o próprio ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, definiu na abertura dos inquéritos que o autor “incontestável” das investigações é o MPF.
Diante do impasse, a PGR encaminhou na terça-feira ao STF pedido para suspender depoimentos programados entre 15 e 17 de abril, o que só foi atendido por Zavascki na noite de anteontem.
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O ministro do STF Marco Aurélio Mello criticou ontem a divergência entre os órgãos ao afirmar que “a verdade” a ser desvendada nas investigações fica prejudicada. “O inquérito busca a verdade e é preciso que as instituições funcionem nas áreas reservadas pela lei. A Polícia Federal, o Ministério Público e, capitaneando, o STF. Não é uma coisa boa o desentendimento entre autoridades”, disse.
Outro integrante da Corte, ouvido reservadamente, afirmou que o desentendimento atrasa as investigações, mas destacou que a divergência entre os dois órgãos é histórica.
A Associação Nacional dos Procuradores da República divulgou nota sobre a crise: “Os procuradores reiteram sua inteira confiança na Polícia Federal - notadamente em seu dever prioritário de cumprir mandados judiciais -, sem que entretanto isso signifique reconhecer pretensões a tarefas perante o Judiciário que não lhe competem, como já reconhecido, no caso, pelo próprio STF”.
A Associação dos Delegados da PF também se manifestou em nota: “A ADPF repudia a tentativa do Ministério Público Federal de interferir nas apurações da Polícia Federal na operação Lava Jato, com o pedido de Janot ao Supremo Tribunal Federal para a suspensão de depoimentos de sete inquéritos que seriam tomados nesta semana”.