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Opinião | Erros e falta de visão para o futuro do governo comprovam que não se pode esperar muito de Lula 3

Aprovação em queda reflete a confirmação de baixa expectativa dos eleitores no mandato do atual presidente

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Foto do author Diogo Schelp
Atualização:

A queda abrupta na aprovação do governo Lula em pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (14), com apenas um em cada quatro eleitores brasileiros classificando sua gestão como ótima ou boa, tem algumas explicações objetivas, como a corrosão da renda da população e os erros de gestão e comunicação muito bem explorados pela oposição, a exemplo da mal-lograda tentativa de aumentar a fiscalização sobre o Pix. Esses fatores até podem ser corrigidos com mudanças efetivas nas políticas públicas, a começar por aquelas que alimentam a inflação, se o petista estivesse disposto a ir contra os próprios instintos perdulários. Mas há uma razão subjetiva para o derretimento do apoio ao governo Lula que é persistente e muito mais difícil de combater: o fato de que desde o começo os eleitores tinham baixa expectativa em relação ao seu terceiro mandato.

Lula iniciou o mandato com a população desconfiada da capacidade de ele fazer um bom mandato Foto: Wilton Júnior/Estadão

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Em janeiro de 2023, o Datafolha revelou que apenas 49% dos brasileiros achavam que Lula 3 seria um ótimo ou bom governo. Era a expectativa positiva mais baixa de todos os presidentes no início de seus mandatos desde a redemocratização, inclusive do próprio Lula. Em 2002, depois da sua primeira eleição, 76% dos entrevistados disseram que ele faria um gestão ótima ou boa. Bolsonaro começou seu governo com uma expectativa positiva de 65% e até Dilma Rousseff deu o pontapé inicial em seu primeiro mandato com 73% de eleitores esperançosos. É verdade que Lula tem a particularidade de não estar em seu primeiro governo, mas, sim, em seu terceiro mandato não consecutivo. Mas isso não ameniza as coisas para o seu lado.

É tentador atribuir essa baixa expectativa em relação a Lula 3 ao fato de o petista ter vencido a eleição de 2022 por uma margem apertada. Mas essa não era a única razão. Há de se considerar também que a imagem do presidente eleito estava desgastada por seu passado de condenações por corrupção que o levaram à cadeia e que, posteriormente, foram anuladas. Esse histórico penal foi deixado de lado por uma parte significativa do eleitorado que avaliou ser um mal maior permitir a continuidade do governo de Jair Bolsonaro.

Esse é o ponto que interessa e que assombra Lula até hoje: ele não foi eleito para o seu terceiro mandato por oferecer esperança aos eleitores, mas porque a rejeição a Bolsonaro era muito alta e porque o petista se apresentou como a pessoa capaz de derrotá-lo. Lula não venceu por ter uma visão de futuro para o país ou as melhores propostas para melhorar a vida dos cidadãos, mas por ter sido o candidato mais anti-Bolsonaro disponível. A baixa expectativa que muitos eleitores tinham em relação ao terceiro mandato de Lula era ao mesmo tempo uma oportunidade e um risco para o presidente. A oportunidade era a de apresentar um governo melhor do que dele se esperava, obtendo, como recompensa, uma alta satisfação popular. O risco era o de confirmar ou até mesmo frustrar negativamente a já baixa expectativa que se tinha em relação ao seu governo.

Estudos de psicologia social demonstram que as pessoas tendem a reter informações que confirmam suas expectativas e ignorar ou descartar fatos que as desmentem. Ou seja, a não ser que Lula fizesse um governo realmente bom, superando as expectativas de forma inequívoca, cairia em uma armadilha de avaliação popular em que eventuais conquistas, como a baixa taxa de desemprego, passam despercebidas e os erros e problemas, como a inflação em alta, ganham relevo, confirmando a descrença de que sua gestão seria bem sucedida e resolveria as mazelas da população.

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O desmoronamento de sua popularidade, portanto, não era uma questão de “se”, mas de “quando”. Mais ou cedo ou mais tarde, a conjunção de fatores objetivos, como a inflação dos alimentos e a possibilidade de mudanças no PIX, confirmaria o fator subjetivo, a baixa expectativa em relação ao governo, e se refletiria no derretimento dos seus índices de aprovação. Haja estratégia de marketing para lidar com isso.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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