Brasília - O direcionamento de verbas públicas para os redutos eleitorais dos ministros-candidatos tem incomodado integrantes da base aliada, que já fizeram reclamações ao Palácio do Planalto. Segundo parlamentares ouvidos pelo Estadão/Broadcast, o problema ficou ainda mais perceptível no fim do ano, quando normalmente há uma margem maior de descontingenciamento para atender as demandas por recursos.
+++ 'Ministros-candidatos' favorecem bases eleitorais
Para o deputado Danilo Forte (DEM-CE), como a atual composição da Esplanada dos Ministérios abriga muitas lideranças regionais, os ministros têm preferido liberar recursos para seus Estados. Segundo Forte, dar um atendimento mais equânime à destinação das verbas federais “vai ser a maior cobrança” que o presidente Michel Temer vai ouvir da base na volta do recesso parlamentar.
Na avaliação do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), a prática é característica da “velha forma de fazer política com fisiologismo”. “Apesar do meu Estado ser beneficiado, lamento uma atitude dessa. Acho que um ministro deve ter equidade nos Estados, não deveria dar prioridade à campanha eleitoral”, disse.
Como mostrou o Estado neste domingo, a dois meses de deixarem os cargos para disputar as eleições, ministros aumentaram a liberação de recursos para seus Estados de origem. Levantamento feito pelo Estado mostra que 7 dos 13 ministros com a intenção de entrar na corrida eleitoral incrementaram o valor autorizado para projetos e obras nos seus respectivos redutos eleitorais.
No Ministério do Turismo, por exemplo, o ministro Marx Beltrão (MDB) destinou no ano passado R$ 72 milhões para cidades de Alagoas, Estado pelo qual pretende disputar uma cadeira no Senado. O aumento em relação ao ano anterior foi de 269%, o que tornou Alagoas o campeão de investimento em Turismo no País.
Essa preferência por atender as bases eleitorais também foi identificada na ação dos ministros Ricardo Barros (Saúde), Sarney Filho (Meio Ambiente), Leonardo Picciani (Esporte), Blairo Maggi (Agricultura), Helder Barbalho (Integração Nacional) e Osmar Terra (Desenvolvimento Social).
+++ Mesmo sem verba, ministros vão mais a seus Estados
Parlamentares de partidos da base governista não esconderam o desconforto com a situação. É o caso do deputado Rubens Bueno (PPS-PA), que criticou o número excessivo de agendas do ministro da Saúde ao Paraná. Barros, que é candidato à reeleição na Câmara, foi nada menos que 20 vezes ao Paraná, onde sua mulher, atualmente vice-governadora, figura como pré-candidata ao governo. Em alguns casos, as agendas não tinham relação com o Ministério da Saúde. “A agenda dele é direto no interior do Paraná com a mulher em campanha e a febre amarela correndo solta”, atacou Bueno. Alguns, no entanto, alegaram que não podem fazer críticas mais contundentes para não parecer ao eleitorado que são contra mais verbas para sua região. “Se eu for reclamar desse tipo de atitude, que beneficia uma candidatura e que é quase uma compra de votos, eu estou questionado o repasse que vem para o meu Estado. Não posso”, justificou o deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA).
O parlamentar revelou que teve recursos cortados para projetos de Unidades Básicas de Saúde (UBS) em seus redutos eleitorais no Pará e que na ocasião, os prefeitos foram informados por aliados do governo que a medida era em retaliação ao fato de Passarinho ter votado à favor das duas denúncias contra o presidente Michel Temer. “Se eu tivesse votado com o presidente, tudo estaria liberado”, concluiu.
Segundo vice-presidente da Câmara, o deputado André Fufuca (PP-MA) saiu em defesa de Sarney Filho. Para Fufuca, os recursos liberados pelo ministro dão a “atenção necessária ao Maranhão”, algo que não foi feito pelos ministros anteriores. “Como parlamentar eleito pelo povo do Maranhão, no que diz respeito a estes recursos, eu só tenho que comemorar. Isso é sinal de que o brilhante trabalho do ministro feito pelo País irá se intensificar em nosso Estado”, declarou Fufuca.