Dispersão dos partidos na Câmara se iguala à de período crítico do mensalão

Falta de coesão em votações nominais bate recorde em fevereiro e se mantém com índice elevado no mês seguinte, quando foram abertas investigações contra 35 parlamentares suspeitos de envolvimento com escândalo da Petrobrás

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Por Rodrigo Burgarelli, Daniel Bramatti, Guilherme Duarte e José Roberto de Toledo

A base de sustentação do governo Dilma Rousseff na Câmara está tão desestruturada agora quanto estava a de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, na época em que a crise do mensalão contaminava o Congresso. Esses dois períodos registram o pico de falta de coesão dos partidos, explicitada pelas votações dos seus deputados federais.

A conclusão é de um levantamento do Estadão Dados na base de votações nominais da Câmara. Para chegar até ela, foi criado um índice de dispersão que varia entre zero – quando todos os deputados do mesmo partido votam de maneira idêntica em todas as votações – e 10 – quando a dispersão interna é máxima dentro de cada sigla. 

Os altos índices de dispersão dos partidos da base aliada ajudaram a elevar a média geral da Câmara. Foto: André Dusek/Estadão

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O índice médio para a Câmara foi de 3 em fevereiro e de 2,5 em março – mês em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou a lista de 35 parlamentares investigados sob suspeita de envolvimento com o escândalo da Petrobrás. Os altos índices de dispersão dos partidos da base aliada ajudaram a elevar a média geral da Câmara. 

O PMDB, por exemplo, registra uma taxa de 2,8 em março. O PP, partido mais atingido pela Operação Lava Jato, chega a um índice de 4,8 no mesmo mês. 

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O recorde anterior havia sido registrado em meio à crise do mensalão, em setembro de 2006, quando a média geral atingiu 2,6 – meses antes, a CPI dos Correios aprovara relatório pedindo indiciamento de mais de 100 pessoas.

Os quadros publicados abaixo trazem retratos dos partidos na Câmara em quatro momentos distintos. Dois deles, de Lula e Dilma ao redor de 15 meses de gestão, mostram governos fortes, com quase todos os partidos da base com alta taxa de fidelidade nas votações e relativa coesão nas bancadas. Nessas duas situações, o índice de dispersão não chegou a 1,6.

Os outros dois permitem a visualização do desarranjo provocado por dois escândalos de corrupção – o do mensalão, no fim do primeiro mandato de Lula, e o da Operação Lava Jato, que domina o atual cenário e ameaça dezenas de políticos.

Essas “fotografias” da Câmara foram obtidas a partir de uma nova ferramenta online construída pelo Estadão Dados para analisar o governismo e a coesão das bancadas partidárias nos últimos 12 anos. Para calculá-la, foram analisadas todas as votações nominais na Câmara desde 2003 para as quais havia orientação do governo.

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Em março de 2004, Lula tinha no Congresso nove partidos de apoio com mais de 90% de índice de governismo: PT, PMDB, PSB, PC do B, PL, PP, PTB, PDT e até o PPS, que mais tarde iria para a oposição. 

Em agosto de 2006, após o vendaval político provocado pelo mensalão, apenas o PT e o nanico PTC ainda apresentavam taxa de governismo superior a 90%. 

Em março de 2012, também com 15 meses de governo, Dilma tinha situação confortável na Câmara, segundo a média das votações dos seis meses anteriores. Seis partidos grandes e médios apresentavam índice de governismo superior a 90%: PT, PMDB, PSD, PP, PSB e PTB.

Hoje em dia, só o PT e alguns nanicos se mantêm com fidelidade superior a 90%. O PMDB, que já foi o principal aliado dos petistas na Câmara dos Deputados, desabou para o 13.º lugar no ranking do governismo. 

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