RECIFE - O governador Eduardo Campos (PSB) assumiu o processo sucessório do Recife. Depois de exonerar, semana passada, quatro secretários estaduais como alternativas para uma candidatura socialista, ele anunciou nesta terça-feira, 12, estar conversando com os partidos aliados da Frente Popular - num total de 16 - visando a definir o rumo a ser tomado na eleição da capital. Nos bastidores, há a convicção de que o PSB vai lançar candidato próprio, diante da briga interna do PT, que está no comando da prefeitura há 12 anos. O governador estaria, agora, cumprindo os ritos de conversação e negociação para poder fazer o anúncio.
"A hora de tomar atitude vai chegar e na hora vamos tomar a atitude que for melhor para o povo do Recife", afirmou ele, em entrevista, no final da tarde, no Palácio do Campo das Princesas, depois de um evento relativo à sustentabilidade ambiental. Presidente nacional do PSB, o governador destacou que, "num quadro normal", a sucessão do Recife caberia ao prefeito João da Costa, o que não foi possível diante das divergências internas do partido, que ainda não tiveram um ponto final.
O governador observou que para unir a Frente Popular, os partidos têm primeiro que ter unidade interna. "Se isso não está resolvido, os partidos precisam levar em conta, porque tem consequências", disse o governador, demonstrando o temor de uma derrota eleitoral, caso não interfira no processo sucessório.
Ele conversou com o prefeito João da Costa no domingo (10) e o avisou que estava assumindo a tarefa. Com 91% de aprovação ao seu governo, ele disse estar sendo cobrado pelas pessoas nas ruas a buscar uma saída. Provavelmente a saída terá um destes nomes: o deputado federal, Danilo Cabral, que ocupava a pasta de Cidades, ou Sileno Guedes, que estava à frente da secretaria da Articulação Social e é presidente estadual do PSB. O governador também exonerou os secretários da Casa Civil, Tadeu Alencar, e do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Júlio, como opções.
"Ao povo interessa uma grande gestão", afirmou o governador, que disse estar ouvindo os partidos e lhes dando o tempo que for preciso, depois que todos esperaram pacientemente o desenrolar da novela petista.
E a briga continua
Imposto pela executiva nacional do PT em detrimento do prefeito João da Costa, que ainda luta pelo direito de disputar a reeleição, o senador Humberto Costa teve seu nome homologado na noite de anteontem (11), por 28 votos contra 17, pelo diretório municipal do partido. A homologação ocorreu no mesmo dia em que o prefeito recorreu à direção nacional contra a indicação do senador.
Para o presidente do PT municipal, Oscar Barreto, a homologação foi "um ato de força", "uma manobra para criar fato na mídia, que só aprofunda a briga interna do partido". "Para que votar algo já decidido?", indagou, sem disfarçar irritação. "Querem mostrar força".
Mesmo sem munição para reverter a indicação de Humberto Costa, o grupo que apoia o prefeito assinou alguns outdoors pela cidade em que indagam "Cadê a democracia?", em três cartazes diferentes, que trazem afirmações como "Ele (João da Costa) realizou o maior orçamento participativo do Brasil e venceu as prévias" e "Ele é líder das pesquisas e venceu as prévias".
João da Costa venceu prévias no dia 20, contra o deputado federal Maurício Rands - apontado como nome do governador Eduardo Campos - mas elas foram anuladas pela executiva nacional diante de questionamento relativo à regularidade dos votantes. Novas prévias chegaram a ser anunciadas, mas Rands renunciou em prol de Humberto Costa. O prefeito manteve a candidatura e a executiva indicou a candidatura do senador.
Em entrevista ao radialista Geraldo Freire, Humberto disse, de Brasília, pela manha, não ver risco do recurso interposto por João da Costa ser acatado pela direção nacional. Afirmou também não acreditar que o PSB lance candidato. "A quebra da unidade da Frente Popular no Recife não interessa a ninguém", disse, ao lembrar que "uma divisão pode conturbar os dois últimos anos do mandato de um governador que tem mudado a imagem do nosso Estado".