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Haddad promete investir na Polícia Civil para reduzir roubo de celular e criar metas de segurança

Candidato ao governo do Estado, ex-prefeito afirmou que apenas policiamento ostensivo não resolve e falou em criar metas de resultado; petista participou de sabatina promovida pelo ‘Estadão’ e Faap

Foto do author Davi Medeiros
Foto do author Luiz Vassallo
Por Matheus de Souza , Davi Medeiros e Luiz Vassallo
Atualização:

O candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, defendeu investimento maior do Estado em ações de inteligência da Polícia Civil e não apenas em “policiamento ostensivo”, que, segundo ele, “faz parte do imaginário das pessoas que é a segurança pública”. Líder das pesquisas de intenção de voto, o petista foi entrevistado nesta sexta-feira, 19, na série de sabatinas realizadas pelo Estadão em parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

Ao avaliar que uma presença maior de policiais nas ruas pode trazer uma sensação de segurança em determinados bairros - e criar atritos em outros, como nas periferias -, Haddad disse que um efetivo militar maior não resolve necessariamente os problemas da cidade. Como exemplo, o ex-prefeito citou o problema do roubo de celulares. “Se você não investigar as quadrilhas de receptação, você não vai acabar com o problema”, declarou. Em 2021, apenas na capital paulista, foram registrados 107 mil aparelhos roubados, ou um crime a cada cinco minutos.

Candidato apresentou propostas para segurança pública durante sabatina realizada na manhã desta sexta-feira, 19 Foto: Werther Santana

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“Tudo o que é roubado tem um destino. O destino é o receptador. Hoje, os delegados e investigadores estão batendo carimbo nas delegacias porque falta efetivo. Ou fazemos uma reforma da nossa segurança pública, ou a gente qualifica os nossos profissionais, fazendo a policia investigativa chegar a essas quadrilhas, ou não vamos ver as nossas estatísticas melhorarem”, completou.

Haddad tocou no tema ao responder pergunta enviada por uma leitora Estadão sobre o déficit de policiais civis no Estado. De acordo com o petista, seu plano de governo prevê ainda a criação de um plano de metas transparente para os agentes de segurança, elencando quais os objetivos a serem cumpridos e fiscalizados. Sem dar muitos detalhes, Haddad mencionou que usará exemplos já usadas em outras áreas da gestão pública, como educação e saúde.

Ao estabelecer como prioridade na segurança pública o investimento na Polícia Civil, o candidato entra numa disputa direta com o atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), pelo apoio da categoria, considerada “menos bolsonarista” na comparação com os policiais militares. Mais próxima do presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais distante dos tucanos em São Paulo, a Polícia Militar tende a apoiar a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), Em ambos os casos, os apoios são informais.

Combate à corrupção

Questionado sobre suas propostas de combate à corrupção, o petista disse que pretende fortalecer a atuação da Controladoria Geral do Estado. Segundo ele, durante os governos tucanos de João Doria e Rodrigo Garcia, o órgão não tem funcionado a contento.

Sobre a suposta ligação de petistas com o crime organizado na capital e no Estado, Haddad não descartou essa hipótese, reconhecendo a necessidade de esclarecer quaisquer suspeitas. “O crime organizado se infiltra em todas as fileiras. Em grandes associações, você sempre vai ter que vigiar”, afirmou.

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Ele foi provocado pelos entrevistadores a esclarecer as suspeitas sobre o vereador Senival Moura (PT). Em junho, a Polícia Civil de São Paulo deflagrou operação para investigar o envolvimento do parlamentar em um crime de homicídio, além de supostas conexões com o Primeiro Comando da Capital (PCC) na gestão de uma empresa de ônibus da capital paulista. O vereador negou as acusações e disse ter sido “surpreendido” pela operação policial em sua casa.

Haddad citou acusações que pesaram sobre outros partidos ao comentar o caso do vereador, incluindo o “gabinete paralelo” no Ministério da Educação do governo Bolsonaro - revelado pelo Estadão - e o episódio envolvendo o ex-diretor da Dersa em governos tucanos.

“Você teve aqui o Paulo Preto [...] um dos maiores ladrões da história de São Paulo, foi pego com R$ 100 milhões em conta no exterior”, disse, ao citar Paulo Vieira de Souza. O escândalo da Dersa veio a público durante a gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), hoje aliado de Haddad.

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Ainda sobre Senival Moura, o candidato evitou entrar em detalhes sobre as suspeitas levantadas contra ele e insistiu que é preciso respeitar o direito de defesa das pessoas. “Todo mundo tem o direito de defesa, que nem sempre é respeitado”, mas “tem gente que merece ser averiguada, e pode ser afastada, como já aconteceu no PT e em vários partidos”, declarou.

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Aliança Lula-Alckmin

O candidato do PT avaliou que a atuação do ex-governador João Doria (PSDB) no PSDB abriu uma “janela de oportunidade” que possibilitou a entrada do ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB) na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A aliança, afirmou, “uniu dois veteranos da política” em uma grande causa, a “liberdade”.

Segundo Haddad, ao colocar Rodrigo Garcia (PSDB), “um estranho no ninho tucano”, para impedir a candidatura de Alckmin ao governo paulista neste ano, Doria abriu “uma janela de oportunidade” que talvez não estivesse no horizonte dos petistas. Além de aceitar ser vice de Lula na disputa presidencial, o ex-tucano também tem sido um importante aliado para a candidatura petista no Estado.

Haddad buscou minimizar a rejeição ao seu nome no interior do Estado, como barreira à sua eleição. O petista argumentou ser inevitável que sua legenda sofra rejeição, por se tratar de uma sigla muito conhecida e pela dificuldade, segundo ele, de pacificar “visões de mundo conflitantes”. “Não tem como convencer uma pessoa que gosta de armas que livros são melhores”, disse.

Ao comentar a última pesquisa Datafolha, que o coloca com 38% das intenções de voto na corrida estadual, Haddad falou que o “antibolsonarismo é real em São Paulo”. Segundo ele, a rejeição ao governo federal pelos paulistas, unida ao desgaste do governo Doria com a população. explicam em parte sua posição de liderança nos levantamentos, a mais emblemática até agora entre os petistas que tentaram assumir o governo em São Paulo.

“As pessoas também medem coerência, resiliência, o quanto você aguentou para ficar no lugar que você achava mais correto ficar. Poxa, eu passei por eleições muito difíceis, as duas eleições mais difíceis para o PT eu que estava encabeçando, em 2016 (prefeito de SP) e 2018 (presidente).”

Bilhete Único Metropolitano

Ao responder uma questão sobre mobilidade enviada por vídeo aos organizadores da sabatina, Haddad afirmou que pretende criar o Bilhete Único Metropolitano para integrar sistemas diferentes de transporte, como trem e ônibus, e reduzir o preço pago pelo usuário. Mais uma vez sem detalhar a proposta - não disse por quanto tempo seria válida uma única passagem, por exemplo -, o petista afirmou que, se eleito, vai implementar a proposta de forma gradual.

“Não há dinheiro para, num passe de mágica, integrar todos os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo ou da Região Metropolitana de Campinas ou de São José dos Campos. Não há recursos para fazer uma integração radical de um dia para a noite, mas você pode, começando pelas cidades onde tem menos emprego e mais população de baixa renda, ir integrando e criando uma autoridade metropolitana de maneira que a pessoa vai pagar uma tarifa e se deslocar pelas cidades conveniadas ao modelo.”

Segundo o petista, que criticou ainda as obras inacabadas de mobilidade pelos governos tucanos, como o Rodoanel ou a Linha 17-Ouro do metrô, “não é justo uma pessoa que mora ao lado da capital ter de pagar duas, três passagens.”

PT x ditaduras na América Latina

Questionado sobre episódios nos quais a cúpula do PT defendeu ditaduras da América Latina, como da Venezuela e da Nicarágua, Haddad afirmou que seu partido tem o apreço pela democracia “em seu DNA”. Ele se negou a responder, no entanto, se considera o venezuelano Nicolás Maduro um ditador. Em vez de dar sua opinião sobre o político, Haddad optou por fazer críticas à oposição venezuelana. “É muito fácil ser binário em questões complexas, mas eu não sou binário, como está sendo colocado”, disse. “Não gosto de Maduro nem da oposição”.

Em consonância com o posicionamento de outros integrantes do PT, o candidato fez críticas aos Estados Unidos, país que, segundo ele, interfere em assuntos internos de outros países sob o pretexto de preservar a democracia, mas com intenções econômicas. “Infelizmente, a gente tem que reconhecer que os americanos se metem em assuntos internos de outros países contra a democracia, não a favor”.

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Em 2019, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi à posse de Maduro após ele ganhar uma eleição que não foi reconhecida pela Assembleia Nacional e por dezenas de outros países. Frequentemente, integrantes do partido causam polêmica ao defender ditaduras de esquerda espalhadas pelo mundo. No ano passado, o ex-presidente Lula comparou Daniel Ortega, ditador da Nicarágua que prendeu opositores para ser eleito, à ex-premiê da Alemanha, Angela Merkel.


Estado x Mercado

O petista defendeu a atuação do Estado e o papel dos governos locais no combate à desigualdade. “Essa ideia de que o mercado resolve tudo não é verdade, sob nenhum ponto de vista. O mercado resolve muita coisa, muita mesmo, o Estado não precisa ser dono de uma porção de coisa”, declarou. “Agora, tem uma dimensão da esfera econômica que se o Estado não fizer, quem faz? O mercado não resolve a pobreza [...] O liberalismo tem limites, o extremo oposto dele também tem.”

Ao comentar como busca apoio no empresariado paulista, Haddad afirmou que o setor tem atualmente um mal-estar com o governo do Estado. “Os empresários paulistas ficaram indignados com a maneira como Doria e Garcia encaminharam a questão da pandemia. Imagine para um empresário fechar as portas? Ele fecha e depois o governo aumenta o ICMS. Há uma indignação das associações comerciais e com razão”, disse. “Foi um erro grave o que aconteceu.”

Haddad diz que tem dialogado com todos os setores porque não quer que o empresariado, que deixou Doria, vá compor a “extrema-direita”, em referência indireta a seu adversário Tarcísio de Freitas. Segundo o petista, faz parte de seu plano de governo a adoção de políticas públicas de reindustralização de São Paulo, assim como projetos de Parceria Público-Privadas (PPPs).

Autonomia das universidades

Como parte da atuação pública na área social, Haddad defendeu priorizar investimentos em educação, garantindo também a autonomia das universidades paulistas. Ex-ministro da Educação, ele afirmou que planeja constitucionalizar a autonomia das universidades públicas do Estado para evitar ameaças à administração das instituições. “Vou colocar na Constituição Estadual a autonomia financeira e administrativas das universidades”, disse.

“Esse governos (João) Doria e (Rodrigo) Garcia ameaçaram a autonomia universitária”, declarou, referindo-se às mudanças tributárias adotadas na gestão tucana e alteração na política de repasses. Sem dar maiores detalhes, Haddad disse que planeja vincular a constitucionalização das universidades a uma cesta de tributos “que permitam maior estabilidade”. Hoje, 1% da arrecadação do ICMS é reservado à USP, Unesp e Unicamp.

A série de sabatinas promovida pelo Estadão em parceria com a FAAP continua na próxima segunda-feira, 22, com a participação do atual governador, Rodrigo Garcia.

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