Um prédio comercial no centro da cidade de São Paulo, ocupado por escritórios de advocacia, administradoras de imóveis e clínicas oftalmológicas, seria a fachada perfeita para uma sociedade secreta se reunir sem despertar desconfiança em ninguém. Seria... “A maçonaria é na sobreloja. O senhor pode pegar o último elevador e apertar o ‘S’”, avisa o porteiro – sem saber o quanto estava decepcionando quem ainda ansiava por algum mistério, alguma coisa mais no estilo de O Nome da Rosa ou O Código Da Vinci.
Foi de terno e gravata, cigarro entre os dedos e jeitão de advogado, que o grão-mestre Benedito Marques Ballouk Filho (advogado, de fato) recebeu a reportagem. Com ele, seguimos para uma sala de reunião – com símbolos maçônicos expostos nas prateleiras, como o esquadro (retidão); o compasso (o espírito); e a estrela de cinco pontas (o homem perfeito). Ah, e uma caixa contendo uma maquete do “Itaquerão” (estádio do Corinthians) também estava lá. Com outros membros do grupo no recinto, Ballouk aceitou falar sobre a relação, cada vez mais íntima, da entidade com a chamada “política partidária”.
Nestas eleições municipais, a maçonaria apoiou 27 candidatos a prefeito em todo o Estado de São Paulo. Deste total, dez foram eleitos – sendo seis do PSDB, um do PV, um do PPS, um do PMDB e um do PSD. Entre os políticos “abraçados” pelo grupo está o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB). Além dele, dois concorrentes receberam a chancela maçônica, Major Olimpio (Solidariedade) e João Bico (PSDC).
No Legislativo, foram 147 nomes apoiados – 25 eleitos. De novo, os tucanos aparecem na frente: nove, além de PSD (três), PV (três), PSC (três), PR (dois), PTN (dois), DEM (um), PPS (um) e PMDB (um). Na capital, os maçons apoiaram Dr. Milton Ferreira (PTN), Mário Covas Neto (PSDB) e Rodrigo Goulart (PSD).
Segundo Ballouk, desde a década de 1930, a maçonaria brasileira mantinha uma postura discreta no que diz respeito ao jogo político. Cenário que mudou radicalmente depois que uma cúpula de proeminentes maçons avaliou que o País estaria vivendo uma “era de escândalos”. A partir daí, nasceria o Grupo Estadual de Ação Política dos Maçons Paulistas (Geap).
Trata-se de um grupo que tem “avalizado” candidatos que, segundo os princípios da maçonaria, defendem a ética, a probidade administrativa e a moralidade pública.
Sem restrições. Embora conceitos de “pátria” e “família” apareçam com frequência no discurso dos iniciados, Ballouk nega que a maçonaria esteja surfando na onda da chamada nova direita. “Apoiamos candidatos em todos os partidos políticos. Até no PT e no PCdoB.” De fato, o Geap empenhou apoio a dois candidatos do campo de esquerda: Bombeiro Barros (candidato a vereador pelo PT de Guarulhos) e Luis França (candidato a vereador pelo PCdoB de São Paulo).
Ballouk faz questão de afirmar que nem sequer o processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff foi unanimidade na entidade. “Maçons participaram das manifestações contra a Dilma, mas não representam a maçonaria como um todo. Temos maçons que são monarquistas e até aqueles que defendem o regime militar.”
Outro maçom, Sérgio Rodrigues Jr., presidente do Geap, explica melhor a ação política da maçonaria. “Nossa pretensão é substituir, no cenário político, corruptos por pessoas livres e de bons costumes. Não fazemos distinção partidária, uma vez que entendemos que o sistema político não está sadio e isso afeta todos os partidos.”
Para ser um candidato abraçado pela maçonaria, não é necessário ser maçom – mas ser indicado ou solicitar formalmente esse apoio.
A chancela do grupo, segundo Ballouk, não significa aporte econômico às campanhas. Em contrapartida, o candidato se compromete a se encontrar, periodicamente, com grupos maçons para prestar contas e ouvir sugestões. Apesar disso, maçons negam a intenção de criar uma espécie de “Bancada Maçônica”, nos moldes das bancadas da “Bala” e da “Bíblia”.
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