SALVADOR - O coordenador-geral da campanha de Fernando Haddad (PT) à Presidência, José Sérgio Gabrielli, escreveu nesta segunda-feira, 29, uma carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual recomenda a manutenção do ex-prefeito de São Paulo como líder de uma oposição que deve incluir outras forças que se uniram contra o risco à democracia.
Para Gabrielli, o PT deve saber combinar a aceitação de críticas, correções de rumo e incorporação de novas posições e se unir a partidos de centro-esquerda e antipetistas que veem um risco na vitória de Jair Bolsonaro.
O ex-presidente da Petrobrás ainda defende que o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, derrotado no primeiro turno e que não se empenhou na campanha de Haddad no segundo turno, "perdeu substância política, mas continuará como um importante personagem da política brasileira e deverá compor a frente democrática e a resistência contra Bolsonaro".
Gabrielli sugere ainda que Haddad "desempenhará um dos principais papeis neste movimento" e que o ex-prefeito de São Paulo "consolidará uma liderança de tipo novo, articulando sua expressão individual com a força do sujeito coletivo que é o partido". Para Gabrielli, o PT não terá "tempo de curar as feridas".
Ele ainda analisou o futuro do PT, defendendo o partido como "o maior instrumento de luta do povo brasileiro". Já sinalizando a posição da legenda no próximo período político, Gabrielli afirmou que o partido "ganhou o apoio de segmentos anti-petistas que se revoltaram contra o risco à democracia" e que é preciso "saber combinar a aceitação destas críticas, correções de rumo e incorporação de novas posições".
O desejo do partido de liderar a oposição ao novo governo é expressa na carta. Gabrielli elogiou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e elogiou aliados, como PCdoB e "parcelas do PSB, do PDT e do PROS". "Um dos maiores desafios para o PT é manter este apoio", defendeu, pregando ainda que o partido precisará "ser mais propositivo em questões concretas e adotar um processo de organização e convencimento amplo de suas posições será um caminho importante nesta reconquista de liderança".
"Não há como pensar numa política hegemônica neste momento. É preciso consolidar a ação conjunta com o PSOL, cujo posicionamento político foi irretocável, com firme compromisso com as lutas populares e com a defesa da democracia", afirma o ex-presidente da Petrobras no texto.
Para Gabrielli, esse "será um exercício difícil de habilidade política de quem tem o papel de liderança na luta de resistência". O petista afirma ainda que "a resistência solitária não é a melhor resistência" e que "a resistência coletiva é mais poderosa".
Ele analisa ainda que o ex-governador e ex-ministro Jaques Wagner, senador eleito nas eleições 2018, "surge como um grande quadro, bem relacionado com os governadores do Nordeste, com expressão nacional" e afirma que o petista baiano "será um líder nacional importante".
Força no Nordeste
A vitória do PT no Nordeste também foi destacada. "O povo nordestino, sob a liderança de seus governadores, foi um gigante. Os estados do Nordeste, bastiões da democracia, honrando sua história de lutas, foram resistentes e deram uma grande vitória a Haddad/Manuela. Agora sofrerão assédios, pressões, perseguições. Mas como já disse um escritor, o nordestino é antes de tudo um forte", diz Gabrielli.
"A questão da soberania nacional, com a luta contra a entrega de nossas riquezas a interesses internacionais e a preservação dos direitos sociais já conquistados, bem como das políticas públicas que reduzem a desigualdade serão importantes palcos de batalhas. Um livro numa mão e carteira de trabalho na outra deverão ser buscas incessantes da luta de resistência", acrescentou José Sérgio Gabrielli.
No texto, divulgado por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp em grupos de militantes petistas, Gabrielli afirma também que o discurso do capitão reformado do Exército na noite do último domingo, 28, retoma "uma velha retórica da Guerra Fria e promete o combate ao socialismo e ao comunismo como princípios fundantes de seu iderário".
O petista afirma ainda que a fala pós-vitória de Bolsonaro reúne "dois discursos em um" e que só será possível saber qual deles prevalecerá a partir do "resultado da resistência democrática" e "da força dos que se opuseram ao discurdo da raiva e do ódio".
Ele ainda defende, dirigindo-se diretamente a Lula, que a luta pela libertação do ex-presidente "volta a ser um importante foco da disputa" e que "eles vão querer atacá-lo ainda mais". "Nossa insurgência contra as arbitrariedades e pela defesa de seus direitos não pode deixar de estar sob atenção permanente", escreveu José Sérgio Gabrielli, finalizando a mensagem com "um abraço solidário".
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