Dilma reage a artigo, diz que FHC quer 'reescrever história' e vê 'ressentimento'

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Foto do author Vera Rosa

A presidente Dilma Rousseff reagiu ontem em tom duro ao artigo intitulado "Herança Pesada", escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e publicado no domingo pelo Estado, no qual ele afirma que Luiz Inácio Lula da Silva, seu sucessor, promoveu uma "crise moral" no País por causa do mensalão.Numa nota oficial de 19 linhas, cujo teor foi mostrado a Lula antes da divulgação, Dilma partiu para o confronto com Fernando Henrique e disse que não reconhecer os avanços obtidos pelo País nos últimos dez anos "é uma tentativa menor de reescrever a história". Não parou aí. "O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento", afirmou. "Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro." Dilma destacou ter recebido uma "herança bendita" e não "um País sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão", numa referência à dívida com o Fundo Monetário Internacional deixada pelo tucano e ao período de racionamento de energia na gestão do adversário político.Às vésperas das eleições, marcadas por disputas entre o PT e o PSDB nas principais capitais, como São Paulo, Dilma afirmou que "Lula é um exemplo de estadista" e "um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse". Foi uma alusão à emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC, em 1998. A reação de Dilma fez parte de uma ação coordenada com Lula. Ao tomar conhecimento do artigo de Fernando Henrique, o ex-presidente soltou um palavrão. "Eu é que me f... com a herança maldita que recebi dele", disse, segundo relato de auxiliares.Embora Lula não tenha pedido para Dilma redigir a nota, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o informou sobre o teor do texto, ontem pela manhã, em conversa telefônica. O ex-presidente aprovou o tom duro.A nota foi uma forma de mostrar sintonia entre os dois, dizer que ambos estão do mesmo lado. O que irritou Lula e Dilma foi o fato de FHC falar em "crise moral" do governo, citar o escândalo do mensalão e bater na tecla da falta de eficiência da administração petista, que demitiu oito ministros "nem bem completado um ano de governo (...) por suspeitas de corrupção". No Planalto, a avaliação é que, ao agir assim, FHC cumpre uma estratégia eleitoral para tentar grudar o escândalo do mensalão em Lula e no PT. O objetivo seria ajudar o PSDB nas eleições, principalmente em São Paulo, onde o candidato tucano à Prefeitura, José Serra, enfrenta dificuldades. Serra está tecnicamente empatado em segundo lugar com Fernando Haddad (PT), de acordo com as últimas pesquisas. Boa relação. Até a publicação do artigo de Fernando Henrique, Dilma tinha uma boa relação com ele. Em maio, FHC foi ao Palácio do Planalto, a convite da presidente, para a instalação da Comissão da Verdade. Lula também estava lá.Em janeiro do ano passado, Fernando Henrique participou de almoço com o presidente norte-americano, Barack Obama. Também em 2011, em junho, Dilma mandou carta cumprimentando FHC pelos 80 anos. Entre os elogios, chamou-o de "acadêmico inovador", "político habilidoso" e "ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação". A carta provocou ciúmes no PT. Ainda no fim do ano passado, Dilma convidou o ex-presidente para um jantar, no Palácio da Alvorada, com o grupo internacional The Elders, do qual ele faz parte. Recentemente, FHC chegou a defender Dilma dos grevistas, antes mesmo de Lula.Ao ler o artigo de domingo, porém, Dilma se sentiu atingida. Além de assinalar uma crise moral do governo, o ex-presidente falou em falta de eficiência. Dilma queria responder no mesmo dia, mas foi aconselhada a deixar a atitude para ontem, para ter mais repercussão. Em conversas reservadas, Dilma disse que Fernando Henrique "passou muito do limite". Na resposta a ele, fez questão de ressaltar que precisava "recolocar os fatos em seus devidos lugares". Em nenhum momento, porém, citou o mensalão. Dois trechos do artigo aborreceram particularmente Dilma. O primeiro, quando FHC diz que "é pesada como chumbo a herança desse estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais sensíveis para o futuro da Nação". O segundo, quando FHC critica a "desorientação da política energética". Dilma foi ministra das Minas e Energia e sempre comandou o setor com mão de ferro.

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