Nome certo para não deixar o governo a pé

Senador que ajudou a enterrar a CPI do Cachoeira preside agora a da Petrobrás

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Por Débora Alvares e BRASÍLIA

Escolhido para presidir a CPI da Petrobrás no Senado, cotado para a mesma vaga na comissão mista, o peemedebista Vital do Rêgo (PB) é a aposta do Palácio do Planalto para evitar que a investigação cause danos ao projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Depois de ajudar a enterrar a CPI do Cachoeira, em 2012, o paraibano assume mais uma vez o papel de protagonista em uma missão semelhante. A eleição unânime para o posto na comissão, de maioria governista, foi articulada pessoalmente por Dilma. Governistas relatam que o primeiro nome cotado foi o do senador João Alberto (PMDB-MA), aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e amigo de longa data do antecessor, José Sarney (PMDB-AP). Mas foi a presidente quem demonstrou preferência por Vital, senador com maior trânsito no Congresso, inclusive com a oposição. O recente histórico de fidelidade ao governo foi determinante. Em 2012, o peemedebista articulou a suspensão das votações de mais de 500 requerimentos da CPI do Cachoeira - instalada no início de 2012, após a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que revelou as relações do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados. Vital trabalhou para barrar pedidos de quebra de sigilo bancário e fiscal de 12 empresas fantasmas abastecidas pela empreiteira Delta para irrigar campanhas políticas em 2010. O agora presidente da CPI da Petrobrás rejeita a tese de que sua escolha se deu por ter conduzido a malsucedida CPI do Cachoeira, que terminou com relatório de uma página e meia sem qualquer indiciamento. "Me dou bem em minhas comissões porque, em nenhum momento, passo por cima das minorias, tenho equilíbrio", diz Vital, para quem a CPI do Cachoeira foi produtiva. "Por força do nosso trabalho, a PF desencadeou pelo menos dez operações, mas a imprensa não deu nenhum crédito ao nosso relatório." Antes de arregimentar Vital para o front governista da CPI, Dilma, porém, precisou fazer um novo movimento de aproximação. Era notória a insatisfação do senador com as seguidas recusas a seu nome para a Esplanada dos Ministérios. Preterido pela presidente para a Integração Nacional, Vital recusou convite para assumir o Turismo, sob o argumento de que ficaria em situação "desconfortável" caso aceitasse comandar a pasta que era da cota dos deputados da legenda. Depois, seu nome também não emplacou na Secretaria de Portos. Presidente da comissão mais importante do Senado, a de Constituição e Justiça, o paraibano ameaçou, segundo relataram senadores próximos, se valer do cargo para retaliar o governo. Reaproximação. O primeiro gesto consistente de reaproximação do Planalto com o senador ocorreu na semana em que os pedidos de criação de CPIs foram apresentados, no início de abril. Dilma chamou Vital e outros peemedebistas para um almoço. Oficialmente, trataram da votação do Marco Civil da Internet, que o paraibano relatou no Senado. Com reserva, receberam da presidente sinalizações de apoio em seus respectivos Estados. No caso de Vital, o irmão, Veneziano Rêgo Filho, é pré-candidato do PMDB ao governo da Paraíba. O processo passou ainda pela indicação do senador paraibano para a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias, que definirá critérios para a aplicação de recursos pelo governo federal em 2015. Essa semana, Vital viajou ao lado de Dilma, a convite da própria, para visitar obras de transposição do São Francisco. Eleito em 2010, o peemedebista chegou ao Senado para o seu primeiro mandato com uma estratégia de independência em relação ao Executivo e à cúpula nacional do partido. Aliou-se ao grupo que ficou conhecido como G-8: os senadores "novatos" da bancada de 20 pemedebistas que buscavam autonomia na atuação parlamentar. Eles contestavam a centralização das decisões nas mãos de Sarney e Renan.Vital, contudo, logo percebeu a dificuldade de se projetar politicamente na Casa sem o aval da dupla Sarney-Renan e passou a ser o elo de comunicação entre rebeldes e cúpula e a colaborar com a estratégia de dissolução do grupo mediante a distribuição a eles de relatorias e espaços nas comissões. A estratégia culminou com a eleição de Renan para presidente do Senado em 2013. O G-8 encerrou seus trabalhos. Vital passou a ser braço direito de Renan e presença constante nos jantares da cúpula do PMDB no Palácio do Jaburu. O diretório regional do PMDB na Paraíba é forte e tem se consolidado como um bastião da sigla no Nordeste. Em 2012, lançou candidaturas em 102 municípios e elegeu 58 prefeitos e três dos 12 deputados federais - entre eles a mãe de Vital, Nilda Gondim. Enquanto diretórios dos maiores colégios eleitorais da região, como Pernambuco e Bahia, atuam para impedir que o PMDB se alie nacionalmente com Dilma, a Paraíba de Vital joga a favor. É o que se espera também dele na investigação parlamentar.

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