A oposição quer que o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), explique à CPI do Cachoeira suas relações com o laboratório Hipolabor, acusado de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação de cartel e falsificação de medicamentos. O objetivo é convocar pessoas ligadas a ele e à indústria farmacêutica para depor sobre o caso, sob análise da Procuradoria-Geral da República (PGR). O governador depõe amanhã. Como o Estado revelou nessa segunda-feira, 11, grampos obtidos com autorização judicial durante a Operação Panaceia, desencadeada por órgãos de investigação de Minas, mostram que o laboratório recorria a Rafael de Aguiar Barbosa - atual secretário de Saúde do DF e ex-diretor adjunto de Agnelo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - para acelerar demandas na agência.Nas conversas, um dos diretores do Hipolabor, Renato Alves da Silva, pede a um representante da empresa em Brasília, Francisco Borges Filho, ex-chefe de gabinete de Agnelo na Câmara, que acione Barbosa para que interfira num dos departamentos da agência em favor da empresa.Uma agenda apreendida na operação lista supostos pagamentos a Agnelo, no valor de R$ 50 mil. Ouvido pelo Estado, o ex-assessor disse se tratar de uma promessa de campanha do Hipolabor ao petista, mas sustentou que ela não se concretizou.O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), adiantou que vai propor requerimentos para convocar à CPI os citados na investigação. Ele disse que Agnelo deveria se licenciar do cargo. A aprovação é improvável, já que os governistas têm maioria e o foco da comissão são as relações de políticos com o contraventor Carlinhos Cachoeira. A alternativa é chamá-los às demais comissões da Câmara. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) adianta que vai solicitar à força-tarefa responsável pela Operação Panaceia o compartilhamento das provas. O objetivo é verificar se o suposto esquema investigado tem alguma conexão com o caso Cachoeira. "É uma situação gravíssima: um laboratório investigado por fraudes manter relações com um governador", afirmou. Integrante da CPI e autor de denúncias contra Agnelo, o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) disse que o depoimento marcado para amanhã é a oportunidade de o petista explicar suas relações com o Hipolabor. Ao Estado, Agnelo negou ter recebido qualquer repasse do laboratório ou tê-lo beneficiado. Em nota, o Palácio do Buriti insinuou que as investigações conduzidas em Minas, Estado governado pelo PSDB, são uma trama de tucanos contra o governador. O deputado Fábio Ramalho (PV-MG), suspeito de receber pagamentos do Hipolabor e de intermediar interesses do laboratório na Anvisa, admitiu nessa segunda ter atuado junto à agência para marcar reuniões e agilizar processos da empresa, mas negou ter praticado tráfico de influência. Ele disse jamais ter recebido repasses da indústria farmacêutica e colocou seu sigilo bancário à disposição dos órgãos de investigação.
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