É tenso, cansativo, às vezes irritante e até aterrorizante, mas é também um desafio fascinante acompanhar de perto as eleições de 2022, num grande momento histórico, um verdadeiro divisor de águas. Não se trata só de eleger o futuro presidente, o PT ou o PL, mas de definir o destino do País pelas próximas décadas, num mundo açoitado por ventos, chuvas e trovoadas.
Vivemos ditadura, Diretas Já, morte de Tancredo, Constituinte, ascensão, queda e retorno de Collor, transição segura de Itamar, estabilidade estruturante de Fernando Henrique, inclusão social e petrolão de Lula, desgoverno Dilma, instabilidade com Temer e concentração de poder e de absurdos de Bolsonaro. Em 2022, é diferente: um confronto de visões de mundo, de civilização.
Jair Bolsonaro, que descarta índios e divide o País entre pobres e ricos, brancos e pretos, Nordeste e Sul, urbanos e rurais, homens e mulheres, evangélicos e católicos, tem as corporações. Há, sim, corajosas dissidências, mas ele uniu as Forças Armadas, polícias, agronegócio e setor financeiro, além dos evangélicos.
É com essa base social, o uso escancarado do Estado e dos recursos públicos e uma sólida maioria bolsonarista na Câmara e, agora, também no Senado, que ele quer impor ao País e às novas gerações uma mistura de sua própria visão atabalhoada de mundo e a cartilha da extrema direita internacional.
Lula acertou muito, errou muito e criou o “nós contra eles” – os “cumpanheiros” contra todo o resto. Mas quem definiu bem a era Bolsonaro foram estudantes de medicina (de medicina?!), ao gritar: “Sou playboy, não tenho culpa se seu pai é motoboy”. Poderia ser “nós somos brancos, vocês são pretos”, ou “nós temos mansões, vocês vão parar na cadeia”. Fim da farra da empregada indo à Disney, do filho de porteiro na universidade, reajuste de salário mínimo e aposentadoria pela inflação...
Há uma licença para o mal. Roberto Jefferson ataca Carmen Lúcia de forma abjeta, empresários humilham Seu Jorge, um candidato a governador fala em “primeira dama de verdade” contra seu adversário gay, brasileiros comemoram chacinas em comunidades, um sujeito mata o aniversariante numa festa por política, um deputado defende que estudantes sejam queimados na cidade da Boate Kiss.
Os melhores economistas, ex-presidentes do STF, artistas, jogadores, intelectuais e tantos outros que eram “eles” nos governos do PT podem não ter voto, mas têm um alerta: que país, que futuro e que mundo queremos? Um mundo do “pintou um clima” com meninas de 14 anos?