A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconhece a gravidade dos retrocessos de Donald Trump na área ambiental, mas tenta minimizar seus efeitos na COP-30, em Belém, planejada para ser o mais importante evento internacional do Brasil no terceiro mandato do presidente Lula. Para ela, os Estados Unidos sempre entraram nas discussões para atrapalhar. Logo, não muda muita coisa.
Trump já assumiu fazendo apologia da indústria automobilística, do petróleo e do uso dos combustíveis fósseis em geral. Os passos seguintes foram retirar os EUA do Acordo de Paris, que limita emissões de CO² na atmosfera, e suspender a contribuição de US$ 4 bilhões para o Fundo Climático da ONU.

Ele vai ampliando o negacionismo e a propagação delirante de que não existe crise climática, que isso é coisa de esquerdista, de comunista. Javier Milei, aqui do lado, já segue o mesmo riscado e põe a Argentina na mesma rota, como se não estivéssemos numa emergência climática histórica, com incêndios devoradores, inclusive nos EUA, alagamentos, secas inclementes, geleiras derretendo, temperaturas recordes por toda parte.
Marina Silva lembra que os EUA não deram bola para as COPs de Paris e de Kyoto, mas sempre se mantiveram entre os 196 países da Convenção Climática. “Sair da convenção seria o extremo do radicalismo e eles ficam, mas participam para criar dificuldades. Com Trump, continua na mesma”, diz a ministra, especificando que o país atrapalha sobretudo os avanços em clima, biodiversidade e desertificação.
Trump ameaça o sucesso do Brasil na COP? Ela responde: “Não se trata de sucesso do Brasil, mas de sucesso do mundo com a COP de Belém. Não será um evento promocional, mas um marco referencial para o futuro do planeta. A nós, do Brasil, cabe conduzir bem as negociações e liderar pelo exemplo”. E acrescenta: “O risco do negacionismo não é nosso, é do multilateralismo climático”.
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Apesar de minimizar os efeitos para a COP e o Brasil, Marina admite o estrago que Trump faz e ainda pode fazer. Afinal, os EUA são o país mais rico e o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, mas Trump retira financiamento para desmatamento, estimula que outros façam o mesmo e, ao contrário de ajudar, boicota soluções para a crise climática, que os EUA foram decisivos para criar.
Como ela frisa, com um Trump ainda mais empoderado e obsessivo no novo mandato, depois de vitória popular, no colégio eleitoral e no Congresso. O que a ministra não diz, mas não é exagero dizer, é que Donald Trump se uniu aos gigantes da Internet para empurrar o mundo para trás, de marcha-ré.
E não apenas no clima, mas no multilateralismo, na geopolítica, nas relações comerciais, na civilidade, na diversidade, no combate à desigualdade e nos direitos humanos mais elementares. O objetivo das COP é salvar o planeta, o de Trump parece ser destruí-lo.