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Opinião | Sem mobilizar as ruas, Bolsonaro e Lula fortalecem o Centrão ou um ‘outsider’ em 2026

Fiasco em Copacabana foi tiro pela culatra dado pelo ex-presidente, mas o atual chefe do Executivo também não tem muito o que comemorar

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Foto do author Eliane Cantanhêde

O fiasco do ato de Copacabana pró-Bolsonaro, ops!, pró anistia aos criminosos de 8/1, confirma que nem ele nem Lula são mais capazes de mobilizar imensas multidões nas ruas. A polarização continua, mas Bolsonaro e Lula perdem o encanto e abrem espaço para um rearranjo das forças políticas, novos líderes e também – o que é particularmente aterrorizante – os tais “outsiders”.

Especialistas vinculados à USP contabilizaram 18,3 mil pessoas no pico da manifestação, enquanto a PM do Rio decidiu, por encanto, quebrar a tradição de não divulgar estimativa de presença desse tipo de evento e tascou 400 mil militantes. A diferença dos números é enorme, assim como a de credibilidade das duas instituições.

Imagem aérea da manifestação de Bolsonaro em Copacabana, que recebeu bem menos apoiadores do que em outras ocasiões Foto: Mauro Pimentel/AFP

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Independentemente disso, as imagens aéreas e as estimativas de USP e PM do governador Cláudio Castro conduzem à mesma conclusão: sim, foi um fiasco. Bolsonaro imaginava um milhão de pessoas, depois ajustou para 500 mil e não chegou nem perto disso. E os bolsonaristas também não se animaram em acompanhar o discurso dele pela internet – onde, aliás, a imagem de Bolsonaro que fez sucesso foi com um reluzente “Sem Anistia” no prédio ao fundo, onde um dia morou a “miss das misses” Marta Rocha.

Numa linguagem bem apropriada, já que falamos de Bolsonaro, o tiro saiu pela culatra. Nem por isso, o presidente Lula e o PT têm muito o que comemorar, já que há tempos também não emocionam e mobilizam milhões como antigamente. As ruas cansaram. Poderia ser o calor, só que não...

O debate sobre a anistia do 8/1, para favorecer Bolsonaro, sai das ruas e se concentra no Congresso, em desconexão com as pautas que realmente interessam à população e aos vários setores que garantem crescimento, emprego e renda: inflação de alimentos, preço estonteante dos ovos, (in)segurança pública, saúde, educação...

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Com Bolsonaro desmilinguindo, a popularidade de Lula despencando e o centro acéfalo e amorfo, o jogo político está nas mãos do Centrão (na verdade, Direitão), que balança para um lado e para outro, de acordo com as pesquisas. Exemplos: para o PSD de Gilberto Kassab, dividido sobre a anistia, e o União Brasil, rachado em relação a tudo, importa quem vai ganhar.

O ambiente político não está só como o Diabo gosta, mas muito atrativo para “outsiders” de passado obscuro ou simplesmente sem passado, de presente atrelado a redes sociais e fakenews e de futuro incerto. Lula foi o grande eleitor de Bolsonaro em 2018, Bolsonaro foi o de Lula em 2022 e, juntos, podem eleger em 2026 um legítimo quadro do Centrão ou até um aproveitador barato, vendido como “antissistema”. Tomara que não.

Opinião por Eliane Cantanhêde

Comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e da GloboNews

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