O ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco depôs ontem no Ministério Público Federal sobre um dos capítulos mais emblemáticos do escândalo de corrupção na Petrobrás - o suposto pagamento de propinas a funcionários da estatal brasileira pela SBM Offshore, empresa holandesa que aluga navios-plataforma para petroleiras. O relato de Barusco foi feito no âmbito de delação premiada na qual ele já concordou em devolver US$ 100 milhões, parte do valor que teria recebido a título de "comissões" sobre contratos enquanto atuava ao lado do ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque.No loteamento partidário que alcançou as unidades da estatal entre 2004 e 2012, Barusco e Duque foram indicados pelo PT para os cargos mais estratégicos. Por eles passavam todas as licitações da Petrobrás, inclusive para obras e serviços das outras diretorias. Duque foi preso no dia 14 de novembro pela Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato. A delação de Barusco foi fatiada em duas. Em uma delas, o ex-gerente revelou aos procuradores como operava o esquema na estatal a partir da Diretoria de Serviços. Na outra parte da delação, ele se dispôs a revelar a procuradores da República o que sabe sobre as relações da Petrobrás com a SBM Offshore.Cadastro. Metódico, Barusco registrava em um arquivo pessoal datas e valores de propinas, além da relação de beneficiários e cargos que ocupavam na Petrobrás. O cadastro particular do delator inquieta ex-dirigentes e fornecedores da Petrobrás. Os investigadores dizem que o documento é "uma joia" das provas sobre o esquema. Ele começou a depor na semana passada. Sobre a SBM resolveu fazer relato à parte, específico sobre as relações de ex-dirigentes da Petrobrás com funcionários da empresa holandesa.Os investigadores estão impressionados com o grau de "organização e disciplina" do delator. Eles avaliam que o impacto de suas revelações é muito mais pesado que o relato de outros suspeitos que firmaram acordo de delação na Lava Jato.A SBM Offshore fechou acordo de US$ 240 milhões com o Ministério Público da Holanda sobre supostos pagamentos de propinas que teria realizado na Guiné Equatorial, Angola e Brasil no período de 2007 a 2011.Após denúncias de ex-funcionários, em abril, a SBM reconheceu ter pago US$ 200 milhões em "comissões" em vários países. Na ocasião, a Petrobrás informou que não encontrou indícios de recebimento de propinas entre seus dirigentes.O representante comercial da SBM no Brasil era Julio Faerman. Os investigadores suspeitam que ele seria o repassador de propinas para ex-funcionários da Petrobrás. Faerman teria recebido, no período de 2005 a 2011, US$ 127 milhões em comissões da empresa holandesa e repassado parte a funcionários da Petrobrás em troca de contratos de aluguel de plataformas flutuantes."O Julio (Faerman) não pagou propinas a ninguém", reagiu o criminalista Antonio Sérgio de Moraes Pitombo. "Ele é um representante comercial." / F.M. e R.B.