BRASÍLIA – A principal empresa alvo da Operação Dissímulo, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), é suspeita de operar sob o nome de um laranja e de integrar um grupo que fraudava documentos para acessar benefícios tributários que permitiam a oferta de preços menores em licitações.
A R7 Facilities, de Brasília, atua no ramo da terceirização de mão de obra, principalmente para postos de apoio administrativo. Disponibiliza trabalhadores como copeiros, porteiros, auxiliares administrativos e secretários. Também faz serviços de construção e manutenção predial, com pedreiros e eletricistas.
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A investigação oficial atinge um grupo de empresas. A R7 é a principal delas. A firma teve um salto em contratos com o governo federal a partir de 2023. Procurada, ainda não se manifestou.
Hoje, a R7 tem 53 contratos ativos com órgãos variados do governo federal, com vencimento entre 13 de fevereiro de 2025 e dezembro de 2028. Esses contratos distribuem milhares de trabalhadores terceirizados por Brasília e por outros Estados.
Esses contratos em vigor somam R$ 541,8 milhões. O levantamento considera contratos assinados em anos anteriores, mas que estão em vigência.
A relação de contratantes vai do Ministério da Fazenda ao Ministério da Justiça e ao Ministério da Educação. A PF e a CGU, responsáveis pela investigação, também contrataram a R7. A operação é focada na maneira como a firma participou da licitação da própria polícia.
“Com a deflagração da operação, a PF está adotando as medidas necessárias para evitar prejuízos à continuidade dos serviços prestados”, destacou a instituição.
Os serviços firmados com o governo, que incluem pastas, órgãos e autarquias ligados a elas, consistem em oferta de mão de obra terceirizada para apoio administrativo e obras de construção ou manutenção. Os ministérios com contratos mais vultosos são, segundo o Portal da Transparência:
- Ministério da Fazenda: R$ 157,6 milhões
- Ministério da Infraestrutura: R$ 151,6 milhões
- Ministério da Agricultura: R$ 76,9 milhões
- Ministério da Educação: R$ 35,3 milhões
A reportagem identificou indícios de 11 empresas que atuam em conjunto, como um grupo. Desde que as principais delas passaram para nomes de laranja, em meados de março de 2021, juntas elas obtiveram mais de R$ 1,5 bilhão em contratos com o governo.
As firmas também prestam serviços para órgãos do Judiciário e Legislativo. A R7, por exemplo, acabou de ganhar duas licitações do Senado, no valor de R$ 48 milhões. A administração informou que pediria explicações depois de questionada pela reportagem. As licitações são realizadas na modalidade pregão eletrônico, um tipo de leilão ao contrário para selecionar a empresa que oferece o menor preço.
Entenda as suspeitas na operação do grupo
A R7 estaria alegando ter direito ao benefício da desoneração da folha de pagamento dos funcionários, benefício do qual não poderia usufruir.
Em síntese, a empresa alega ter uma atividade econômica principal que permitiria a desoneração da folha: “instalação e manutenção de sistemas centrais de ar condicionado, de ventilação e refrigeração”.
Entretanto, o negócio central da companhia é a terceirização de mão de obra. A definição da atividade preponderante de uma empresa também depende dos serviços que presta.
Nesse sentido, a suspeita é a de que a R7 fraudava o faturamento, alegando ter mantido determinado volume de negócios que não seriam de terceirização.
As investigações confirmaram a suspeita levantada por reportagens do Estadão ainda no início de 2024. Como mostrou o Estadão, em uma relação de contratos com órgãos públicos e privados entregue ao governo federal a R7 Facilities informou prestar serviços para duas empresas com indícios de serem de fachada: a G&G Empreendimentos Imobiliários e a Falcon Facilities. Elas teriam contratado a R7 para serviços que somavam R$ 40 milhões.
A atuação da R7 entrou em evidência depois de o Estadão revelar que ela prestava serviços de manutenção dentro da penitenciária federal de Mossoró (RN), mesmo estando em nome de um laranja. Dois detentos faccionados haviam fugido da unidade.
A situação foi considerada grave por especialistas por permitir dúvidas sobre o controle de segurança em uma área sensível. Mais tarde, o governo federal descartou influência de operários na facilitação da fuga.
A CGU abriu um Processo Administrativo de Responsabilização (PAR) contra três empresas do grupo econômico. Não está descartado que, a partir dos achados da operação desta terça, novos processos sejam abertos.
Relembre as principais reportagens do caso
O Estadão mapeou a relação das empresas ao analisar centenas de licitações, milhares de páginas de processos judiciais, balanços contábeis, publicações em redes sociais, mensagens privadas e documentos da Junta Comercial.
Também serviram para montar os elos da rede as contradições apresentadas em entrevistas com os supostos donos, conversas com agentes do mercado e o não funcionamento de empresas nos endereços informados à Receita Federal.
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