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As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Entenda por que Bolsonaro prefere o general Braga Netto e não Tereza Cristina como vice

Cargo importa pouco para eleição presidencial e por isso Bolsonaro não quer correr riscos que possam causar problemas mais à frente

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Atualização:

Embora criticada por aliados no Congresso, a escolha do General Braga Netto para a candidatura à vice-presidência ao lado de Jair Bolsonaro faz todo o sentido do ponto de vista estratégico. Bolsonaro teria pouco – ou quase nada – a ganhar com a escolha de Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, para compor sua chapa.

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Não que Tereza em si seja um problema. A questão é que o candidato à vice tem uma importância muito pequena na decisão de voto. Isso tem ficado muito evidente, por exemplo, no caso da chapa adversária, Lula e Geraldo Alckmin.

Desde dezembro, quando esquentou a especulação em torno dos dois antigos rivais, diversas pesquisas de opinião especularam a respeito da ajuda que Alckmin poderia dar a Lula, em termos de votos. A resposta não varia. Uma pesquisa mais recente, de maio, ilustra bem esse ponto: 46% dos eleitores dizem que não faz diferença, 27% acham que diminui as chances de voto, e 23% acham que aumenta, segundo levantamento FSB/BTG. Os efeitos se anulam.

Jair Bolsonaro e Braga Netto, ex-ministro da Defesa; general é apontado como vice do presidente na eleição de 2022 Foto: Gabriela Biló/Estadão

Dentre os principais institutos de pesquisa, nenhum investigou o efeito de uma eventual chapa Bolsonaro-Tereza; talvez por Bolsonaro sempre ter deixado clara sua preferência por Braga Netto. Mas o resultado muito provavelmente seria o mesmo, ainda que aliados de Bolsonaro acreditem que a presença de Tereza tornaria Bolsonaro menos rejeitado entre as mulheres.

O eleitor é racional. Ele entende que o vice-presidente não tem poder, dentro do governo, para resolver os problemas do país.

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De que maneira, então, um vice poderia ajudar? Se o eleitor reconhece que o cargo em si tem pouca importância, a explicação que resta seria para ajudar a sinalizar as preferências do candidato a presidente a respeito de sua agenda ou coalizão. As escolhas de Lula têm seguido essa lógica. Na primeira passagem pela presidência, a indicação de José Alencar serviu para dar credibilidade à promessa de uma agenda econômica moderada. Agora, com Alckmin, Lula quer vender a imagem de união nacional. Mas é importante frisar que o alvo dessas sinalizações não é tanto o eleitor comum; a mensagem é principalmente para a classe política e a elite econômica.

A escolha do vice também serve para consolidar alianças partidárias. Essa foi a lógica de Dilma Rousseff, com Michel Temer. Mas, como esse episódio também mostrou, a escolha pode custar caro mais à frente. É isso que preocupa Bolsonaro. Ele não precisa ceder a vaga de vice para atrair partidos; a aliança já está formada. Para o presidente, então, muito ajuda quem não atrapalha: ele prefere um vice leal e distante do jogo partidário, como Braga Netto, em vez de ter alguém oriundo da Câmara que trazer ao Congresso a tentação de derrubá-lo mais adiante.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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