A interferência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, nas articulações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na tentativa frustrada de libertar reféns em poder do grupo armado piora sua imagem no Congresso brasileiro, com reflexos na votação do projeto que prevê o ingresso da Venezuela no Mercosul. A atitude de Chávez foi classificada por parlamentares brasileiros de "pirotecnia" e de uma tentativa de se projetar como o "super-homem" que tudo resolve. O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) considerou que a ação de Chávez contribui para desgastar a imagem do presidente venezuelano na Câmara e no Senado, que precisam ainda votar o projeto de lei de inclusão da Venezuela como membro permanente do Mercosul. "Isso reforça a percepção de que Chávez é um presidente autocrata e voluntarista." Para ele, a tentativa de Chávez foi de autopromoção e não de interesse na vida dos reféns. Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), foi uma ação "atabalhoada" de um presidente que tem o seu estilo próprio, " e que não nos surpreende mais, mesmo que estivesse com boas intenções''''. Com muita polêmica e discussões sobre a democracia na Venezuela, pontuadas com críticas a Chávez, as Comissões de Relações Exteriores e de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovaram a entrada do país no Mercosul. O tratado, que tomou o formato de projeto de lei, precisa ainda ser votado pelos deputados em plenário antes de seguir para o Senado. Com pauta trancada por medidas provisórias e projetos em regime de urgência, a proposta só deve ser votada pelo plenário em março. As votações na Câmara só serão retomadas após o carnaval, em fevereiro. CRÍTICAS Parlamentares de oposição criticaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter escalado o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia para acompanhar a tentativa de libertação dos reféns no lugar de diplomatas do Ministério das Relações Exteriores. "É lamentável que o Brasil tenha enviado para essa operação um funcionário burocrático, preterindo o Itamaraty", criticou Heráclito. "Já é tempo de tomarmos juízo na política externa e passar a fazê-la apenas pelos canais oficiais. O secretário Garcia, com tendência de integração bolivariana, não acrescenta nada à política oficial feita pelos canais competentes. Só atrapalha, só confunde", disse Heráclito. Jungmann, que integra a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, também criticou: "É lamentável que o Brasil tenha contribuído com essa iniciativa midiática sem analisar os riscos." Para ele, a escolha do representante brasileiro foi um "desprestígio" ao Itamaraty, que tem um quadro historicamente competente de diplomatas. "O governo terceirizou as relações externas na América Latina", constatou Jungmann, completando que o Garcia sempre está à frente nas relações internacionais quando se trata de questões da América Latina. "É mais uma opção equivocada", afirmou.