Escândalo sobre restaurante já provocou a queda de um presidente da Câmara

Caso conhecido como ‘mensalinho’ levou o parlamentar a renunciar ao cargo, para evitar um processo de cassação

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Foto do author Adriana Victorino

Um escândalo envolvendo um restaurante da Câmara dos Deputados levou à queda do presidente da Casa na época, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). O caso conhecido como “mensalinho” levou o parlamentar a renunciar ao cargo, para evitar um processo de cassação.

Em 2005, o empresário Sebastião Buani, responsável pelo restaurante da Câmara, acusou o deputado de cobrar propina para renovar o contrato de concessão de restaurantes. A Câmara permite que empresas atuem nos restaurantes localizados na Casa, por licitação, e mediante um pagamento mensal pelo uso das instalações.

Severino Cavalcanti chegou à presidência da Câmara em 2005. Foto: Celso Júnior/Estadão

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Segundo o empresário, Cavalcanti exigiu, entre janeiro e abril de 2002, época em que atuava como primeiro-secretário da Câmara, que Buani pagasse R$ 60 mil para que o contrato fosse estendido por mais três anos.

A situação do deputado ficou ainda mais complicada quando o empresário apresentou um cheque de R$ 7,5 mil entregue ao parlamentar. O corregedor da Câmara na época, Ciro Nogueira (PP-PI), que coordenava uma comissão de sindicância para apurar as denúncias, afirmou que o depoimento de Buani deixava Cavalcanti “em uma situação constrangedora, muito difícil [...] é um depoimento chocante”.

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A secretária de Cavalcanti, Gabriela Kênia Martins, foi quem realizou o saque do dinheiro e contou em depoimento à PF que a quantia havia sido entregue ao filho do deputado, Severino Júnior, para pagar despesas da campanha eleitoral.

A Polícia Federal passou a investigar o caso e afirmou que Buani teria pagado cerca de R$ 120 mil ao deputado entre 2002 e 2003. Segundo o relatório da PF entregue ao Supremo Tribunal Federal, foram encontrados “indícios veementes de crime” cometido pelo então presidente da Câmara.

Pressionado pela oposição e pela própria família, que temia uma possível cassação, Cavalcanti renunciou em 21 de setembro de 2005, nove meses após assumir o cargo. Em seu discurso que durou 33 minutos, o deputado citou Euclides da Cunha e culpou a elite parlamentar por sua derrocada.

“A elitezinha, essa que não quer jamais largar o osso, insuflou contra mim seus cães de guerra”, afirmou. Cavalanti ainda previu que seria eleito novamente no ano seguinte. “Voltarei. O povo me absolverá”, disse. O deputado ainda afirmou que havia perdido dinheiro com a política.

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“Executem a devassa. Revolvam minha vida. Exponham minha memória. Consultem minhas contas. Façam e refaçam os cálculos. E chegarão à mesma conclusão inevitável: Severino Cavalcanti empobreceu com a política. Esse sim, o verdadeiro empobrecimento ilícito”, afirmou o deputado.

O vice-presidente na época José Thomaz Nonô (PFL-AL) foi quem assumiu o cargo interinamente. Em 2007, o Ministério Público Federal denunciou o deputado por crime de concussão, contudo, o processo não foi julgado e acabou sendo extinto após a morte de Severino em 2020, aos 89 anos.

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