São Paulo - Antes mesmo do início oficial da campanha municipal deste ano, no dia 6 de julho, que vai definir os novos prefeitos e os representantes das Câmaras Municipais, alguns temas já começam a dominar o cenário político. Na disputa pela maior prefeitura do País, a de São Paulo, considerada também uma das grandes vitrines eleitorais, a mobilidade urbana, incluindo o caótico trânsito da Capital, é o tópico de maior destaque nas discussões entre candidatos e especialistas. E por essa razão, foi escolhido para abrir a série de matérias especiais que a Agência Estado está produzindo sobre os assuntos que estarão em pauta neste acirrado pleito.
Com um recorde histórico de 295 quilômetros de congestionamento batido no dia 1º de junho deste ano e a ineficiência do transporte coletivo, a mobilidade urbana se tornou central na cidade de 11 milhões de habitantes. A despeito de PSDB e PT, dos dois principais partidos que disputam a sucessão em São Paulo, terem programas divergentes neste setor, o tucano José Serra e o petista Fernando Haddad, têm pelo menos duas visões em comum: o estímulo ao uso de bicicleta e a criação de empregos fora das regiões com grande concentração de trânsito, como forma de diminuir os deslocamentos diários.
Mesmo sem terem elaborado seus programas de governo, os prefeitáveis já começam a expor as suas ideias. Chamado de São Paulo Interligada, o projeto de corredores de ônibus de Haddad tem como meta triplicar os 100 quilômetros de faixas segregadas. O petista defende a implantação do modelo para grandes vias, com mais de três faixas de rolamento. Para ele, não se pode penalizar a população que nos últimos anos passou a ter o carro próprio e colaborou para elevar a frota para 7 milhões de veículos nas ruas de São Paulo. "O trabalhador do mundo inteiro tem carro, mas, não usa porque tem um transporte público de qualidade. O problema não é o acesso ao carro, é o não acesso ao transporte de qualidade", defende.
O deputado federal Gabriel Chalita, que vai disputar a Prefeitura pelo PMDB, concorda com o petista. "Não há como pedir para o paulistano deixar o carro em casa enquanto o transporte coletivo não for bom, eficiente, rápido e seguro." José Serra também defende novos corredores de ônibus, mas quer que eles funcionem como "abastecedores" das estações de Metrô. O tucano prega que esses novos corredores "não devem ser feitos de forma improvisada". "Não basta pintar uma faixa no chão e dizer que ali há um corredor, como era feito antigamente. Corredores com muitos cruzamentos, sem áreas de ultrapassagem, podem provocar efeito contrário ao esperado."
Além do planejamento adequado para os corredores de ônibus, Serra defende também investimento maciço em transporte sobre trilhos com o governo do Estado de São Paulo. Para o tucano, é necessário triplicar o transporte sobre trilhos na cidade "rapidamente". Mesmo que o investimento em Metrô seja da alçada do governo do Estado, ele afirma que a Prefeitura "pode ajudar". Serra cita como exemplo o investimento de R$ 2 bilhões que a administração atual, de Gilberto Kassab, que o sucedeu no executivo municipal, fez no modal.
Na avaliação de Haddad e Chalita, a Prefeitura deve manter a colaboração no Metrô, desde que haja comprometimento do governo do Estado com a aceleração das obras. Chalita defende a inauguração de uma linha de Metrô a cada quatro anos e Haddad condiciona a liberação de verbas ao cumprimento das metas. "Como é que vamos nos deslocar sem corredor, sem Metrô e sem investimentos na malha viária? Nós estamos numa encrenca, que é o que chamamos de apagão do transporte público na cidade de São Paulo", resume Haddad.
Para estimular o uso de transporte coletivo, a equipe que prepara o plano de governo de Fernando Haddad estuda a revisão dos custos da passagem para aplicação da tarifa sazonal (com valores específicos para horário de pico e fins de semana) e cobranças diferenciadas (cartão semanal ou mensal). Haddad também quer a integração de bicicletas ao Bilhete Único através do sistema de compartilhamento (o passageiro pega uma bicicleta perto de casa e deixa num bicicletário próximo a uma estação do Metrô). Já o tucano defende a adoção de medidas que estimulem mais pessoas a pedalar, o aumento da segurança para os ciclistas e a criação de novas ciclovias.
Inteligência de trânsito. Outro ponto em comum nas ideias que vem sendo defendidas pelos principais concorrentes à Prefeitura de São Paulo são os investimentos em inteligência de trânsito, sobretudo na Companhia de Engenharia de Trânsito (CET) como forma de amenizar os congestionamentos na cidade. "Quando chove é comum que os semáforos parem de funcionar. Mas, em compensação, os radares continuam a aplicar multas. Então, não é questão de tecnologia", destaca Gabriel Chalita. Segundo ele, o investimento em inteligência de trânsito pode resolver 20% dos problemas da cidade sem obras viárias. "Isso pode ser feito imediatamente", garante.
Serra defende o uso de semáforos inteligentes e no-breaks, que garantem o funcionamento do equipamento mesmo quando há oscilação na rede elétrica. O tucano ressalta que atualmente há 1.536 semáforos inteligentes na cidade e até o fim de julho serão 200 no-breaks."É preciso avançar nessas duas frentes", prega. Já Haddad diz que falta engenharia de trânsito na cidade porque não há contratação de novos engenheiros. "Precisamos recuperar urgentemente a CET", afirma o petista.